sábado, 4 de maio de 2019

Rapidinha com a balconista da farmácia

Foto: Amparo Ibañez Santa Cruz RN

By Ogro Lunar!
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Rapidinha do OgroLunar com a Balconista de Farmácia.
(Escrito ao alto e bom som Lagrimas Sofridas - Los Hermanos)

-Bom Dia gracinha! Achava que a farmácia abria as 08 Horas, mas esta daqui só abriu as 9Hs! E normal isto?

A atendente respondeu seca e ríspida.

-Em primeiro lugar cara, meu nome é Gildete e não sou gracinha de ninguém só de meu noivo que é o dono da farmácia por sinal, e abrimos sim as 8 horas mas eu tive que fazer o café porque a múmia da velha que cuida de casa faltou ao serviço para levar a neta dela ao hospital. O que você deseja?

Era aquele tipo de olhar que tantas vezes me demoliu com as minhas queridas loucas do passado, aquele olhar sampako que me olhava mas nada fitava, como se eu fosse totalmente transparente...contaminado de tédio mórbido toda vez que cada uma delas descobria que não adiantava criar expectativas em nossa relação, pois em nada poderia lhes prometer como permanecer de regar lhes o dia com felicidade inventada que elas exigiam que eu replica-se através daqueles estúpidos sorrisinhos histéricos e contando-lhes piadinhas ridículas quando eu chegava a noite e dava aquele ar de esperança que talvez aquele móvel ou utensílio que ela tinha "mencionado" inúmeras vezes pudéssemos comprar no próximo pagamento, claro que tanto eu quanto ela sabendo que já devíamos até que mais do que eu tinha por receber nos próximos pagamentos, gastos em coisas corriqueiras do dia-a-dia.


Um dia uma pequena burguesa me perguntou "Porque pobre gasta tanto quando tem algum dinheiro?" 
Eu respondi:
- "Vocês tem boas casas para poder perder, a que moram e as que vocês alugam para os fudidos, roupas boas e moveis duráveis, seguros de todo tipo, planos de saúde, fundos de emergência e capitalização, advogados, bolsas de estudos no exterior, pagam planos de viagem, veterinários, hotel para animais domésticos, terapeutas e sociedades para hospedagem a nivel nacional e internacional, boas escolas de renome que vai lhes garantir ingresso numa boa faculdade e consequentemente num bom e rentavel emprego, cursos nas melhores escolas de idiomas e essa merda toda que venha a perder se caso não economizarem para manter a manutenção dos acúmulos herdados, porque seus pais receberam dos antepassados o acúmulo de anos de trabalhos na massa-falida hereditária através de bens duráveis de longo prazo, então quando vocês casam as famílias juntam todo este mofo mortuário dão uma removida nas traças, poeiras, revalorizando tal montantes impossibilitando a entrada de vocês numa vida de casados, pelados em couro e osso. Já na cadeia do círculo do pobre os rendimentos acumulados são de curto-prazo que leva-os a terem sempre que recomeçar mergulhando na armadilha do crédito-agiota e empregos com vencimentos análogos a escravidão, é como o vício dessa porra desta droga que você vive entupindo o nariz, uma hora você vai viver em função de não cair na corda bamba do submundo, sempre comprando e só tendo o momento, pobre gasta porque nada tem, apenas o momento para garimpar a sobrevivência, sempre tá precisando comprar algo que não vai durar tanto tempo por causa das condições que ele tem de comprar em que muitas vezes nem podendo comprar, ele coloca para torrar seus anos de trabalho(Até mesmo quando isso não lhes falta também) colocando seu nome na praça. Agora sei que vais perguntar 'e porque compra coisas que sabem que não presta? '. Então, sobre coisas que tem a qualidade duvidosa, isenta de garantia de durabilidade e manutenção por exemplo, o fetiche de consumo levou a China a se tornarem poderosa na economia através do dinheiro do pobre. Eu entre outros milhares de lascados do mundo achamos muito bacana aquele carro inglês que custa 120 mil paus; o carro COOPER. Os chineses sacaram o desejo do pobre, produziram um modelo similar de baixa qualidade, mas similar mesmo e colocou no mercado o LIFAN320 por 33 Mil paus, sacou? Agora, cala boca e chupa. Você torrou meu sossego com tua fissura, mina!" 

Esta funcionária da farmácia expressava o retrato típico de quem foi enterrada viva e consumida por seus anseios e expectativas no tal mundo de acessibilidade ao parque de diversões do consumo almejado e alcançado pela estabilidade financeira a custo de se sujeitar-se ao modelo de padrão social vigente sob pena de desilusão continua através de representar sua nova e nascente possível familia como boneco patético de segundo plano, convenções sociais imbecis, rotina, falsidade,etc. Convencidos pela propaganda constante e por pessoas-de-bem como os nossos pais, somos introduzidos e direcionados Escola de Ensino Fundamental de Vida Patética, qual todos os jovens somos doutrinados do nascer até a maioridade para sermos desovados para vida. Rebelar-nos contra o sistema desta doutrina custa caro. Nossa condenação por fugir de tal Escola e ficar a deriva num destino incerto, deserdados, renegados apátridas e tidos como loucos, marginais, sujos, vagabundos e putas. 
A mais marcante e destrutiva das matérias lecionadas leva ao condicionamento de assimilarem a hipocrisia e mentir para os outros e para si mesmo como condição de graduação para poder ser liberado dentro da fatídica jaula de atuacao na sociedade recriando permanentemente o espetáculo das arenas de Pão e Circo refletindo e mesmo engordando até a obesidade do mau-caratismo o mundo de fabulas trazendo-lhe um mundo de falsos sonhos, fofocas e intrigas. Canibalismo sócio-cultural. 
Este era o mundo que minhas doces doidas imploravam para eu reverenciar dia apos dia, era condicionamento de regras para a futilidades para ornamentar nosso jardim com este tipo de ervas daninhas. O cúmulo chegava e esses relacionamentos sempre naufragavam quando aportavam na fossa no porto do desespero que entre outras coisas na falta de bóia salva-vidas para se agarrar, agarrava-se a baixarias do tipo: acontecidos no meu mundo de trabalho e replicando planos sobre a compra que faria para nossa casa e do pedido especial mensal(Algum tipo de Souvenir) do qual elas me relembravam a cada manha e com o ar de comprometimento me desejavam um bom dia e me empurravam quase aos tropicões em direção ao ponto do ônibus poeirento.
A minha mudez chegava. E quando chegava neste ponto estávamos os dois de não mais suportar a condição que cada um tínhamos levado a chegar nesta situação, então a coisa acontecia simples e violenta. A ruptura plena ou física deste quadro era ou elas abandonavam e sumiam para sempre e me deixavam a deriva com o nome sujo na praça ou eu dava-lhes tempo para sacarem que eu fui demitido de novo e segui para algum hotel pulguento para me purgar e voltar só o mulambo-de-gente e aceitarem que nós começariamos do zero sempre, não fazendo planos para o futuro. Geralmente abandonavam o barco, não sabia se seria diferente desta vez o desfecho. Era este o caso, mas não iria esperar para saber e eu não cavei desta vez a demissão do meu trabalho temporário mesquinho e ordinário, por incrível que pareça, desta vez, as garotas do RH não eram tão imbecis se esforçavam em atender bem como merecem a negada da lida e até uma delas gostava de puxar papo comigo e conversar sobre coisas absurdas e anedóticas da vida pescado cada um o sorriso complacente do outro, mas eu estava explodindo de angustia e não iria confrontar e ser deselegante com estas gentis cabrochas, então ,mudei do rumo da firma para esta farmácia e saído do meu insight a defrontar este mesmo sentimento com esta balconista afogada em melancolia. Apesar dela transparecer um estado hipnótico mórbido, furto-me em observa-la de perfil. Não era uma Godiva, mas bem torneada curvas em tudo, um espetáculo em simetria e figurava um charme desleixado, falando e respirando com fogosidade arrastada e preguiçosa, é assim nas passadas de seu andar, era uma "Raimunda", como é dito para as diva lá no nordeste. 

-E aí cara, vai ficar plantado aí? Que tú queres? 
-Tem, senhorita Gilsete, Lexotan e Valium?
-Tem. Cadê a receita?
-Esqueci. Mas podemos ter um cafezinho por fora...
-Da não. Meu noivo disse que mês passado esse tipo de cafezinho quase custou a farmácia e teve que dar 5 mil pelo cafezinho dos home.
-Então... Tem Fenergan? Esse dá sem receita, não é?
-Dá!
-Cinco caixas por favor.
-Sei!!! Aproveita que ele tá bom de desconto e leva outro se caso for pagar em dinheiro.
-Então tá. Qual o preço na tabela e quanto é de desconto? Humm...o desconto é bom mas cinco caixas dá e sobra. Faz o seguinte, inclua um daqueles Mini-Kit's de Primeiros-Socorros da promoção. Toma os 3 pilas para completar o pagamento.
-Tá aqui as cinco caixas e o Kit. Mais alguma coisa?

Olhei uma vez mais com certa pausa aquele olhar Sampako da balconista, e sem surpresa nenhuma em nada mudara.

-Não quero não minha gracinha. Tchau!
Saio da farmácia em direção ao hotel Pulguento sem pressa nenhuma.

OgroLunar. 10 de marco de 2016

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