sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nadine e a Cuba-Livre

Leia escutando:
NOIR DESIR "L'homme pressé"
Foto: Bertrand líder da banda sendo preso 2003 depois de matar namorada a socos, Marie era atriz, sua mãe Nadine diretora e o pai Jean-Louis Trintignant ator, o conhecido "Clã Trintignant" este texto é inspirado no guia telefonico...e a essas pessoas, estrelas cadêntes do mundo artístico ...


Broken baby doll
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Leia escutando
Nadine e a Cuba-Livre
Nadine pensa e metralha em todas a direções na mesa do bar:

"EM Nível de dimensão de energia cósmica e sua dispersão em agrupamento de corpos inanimados, o sistema solar não passa de uma bolha solta de um pum dado neste piscinão olímpico de universo, e digo mais, o próprio universo pode se limitar a estar dentro de uma bolha de um sistema muito maior de dimensão interestelar, algo como,... um universo equivale em proporção aproximada a uma representação de uma bolha de uma grande dose de cuba-livre em que zilhões de anos-luz deus saboreia de gole em gole pelo canudinho e assim milhões de estrelas, galáxias e universos são tragados pelo tufão magnético do buraco negro causado pela bebericagem perversa com este canudinho de deus, sugando toda essa porra de universo e tudo some através desse ralo negro ou Black Hole, como dizem na gringa, então neste caso, deus existe e está de férias prolongadas e por isso e outras coisas que o mundo está como está, a essência de valor de milhões de vidas saindo pelo ralo do buraco negro desta cuba-livre divina”...(interrompe-se) “Alguém viu o dudú esta semana em gente? Viu? Não? Deve está bem em outro rolê, assim espero! Ele sabe ser legal de vez em quando e por isso ele tem de escolher, não pode está em vários lugares ao mesmo tempo!Isso lembra daquele desenho animado do super-herói chamado...Homem múltiplo!Porra! Ducaralho! O herói salva todo mundo só não podia salvar a si, tinha crise de identidade porque ele não sabia qual dos múltiplos ele era de verdade!Háh!Háh!Sacou galera?”.
Ela estava rachando, mais um pouco e ela se desintegraria a vista de todos e com isso nosso rolê da semana já era!
Nosso grupo chamava-se Diabolinux, nosso papo era sempre desde ciber-ativismo, técnicas de sabotagens, mídias alternativas, programas de software livres para constituições de territórios autônomos, adegas, cinema francês, cinema brasileiro, pornochanchada, Baudelaire e jazz, quando alguém estava irritado aí a conversa migrava pro campo da filosofia e política até sair no tapa, trocas de farpas, socos, empurra-empurra, e berros.
Agora esta!...Um momento de curtição que pode ir por água abaixo por causa do canastrão do dudú (dudão como ele gosta), e que neste momento está traindo Nadine com um bagulho de mulher. Já ouvi algo do tipo sobre como ferir orgulho de uma mulher, não é trair somente, “depende por quem você foi equiparada” e depois trocada, ser trocada por um bagulho deve doer...Capiche?
O homem geralmente se preocupa com o tamanho e peso dos chifres, pois o medo é não conseguir levantar a cabeça e perde-la algum dia com o excesso de peso.
Antes de eu ir parar debaixo das pontes e nas ruas, essa foi minha época de ouro, antes não enxergava a dimensão de nossa covardia, e foi Nadine e suas conseqüências que me abriu as portas, ela levantou o X da questão com a divagação na sua "cuba-livre", sobre o vazio do espetáculo que é o sintoma de destruição dos sentidos do real, nossa vida estava condenada pelo sistema na condição de sobreviver de acordo a aceitar os ditames de sua verdade sobre valores afora nestes tablados e palcos de sociedade civilizada e moderna, e o seu entorno era periferia interligada a matrix, entre cenários forjados ao real do orgânico, “do teatro veio à vida e ao teatro retornará” esse teatro de viver era muita avacalhação para mim e, daí foi que comecei a me esguiar para a indigência nas ruas que era o "espetáculo do vazio ao extremo", mas este pelo menos mais sincero, ao relento, a morte pelo esquecimento e da constituição biológica entre paredes e concretos.
E melhor do que viver pelas mãos de quem dita a descaracterização incessante dos valores, dos editores que alimenta incessantemente o forno da verdade como em 1984 de G. Orwell, tornando-se o sustento desse sistema e assim prismar minha redenção aos céus nas chuvas pontuais de cinzas do Aldous Huxley, como em seu livro A.M.N.
Já os outros do Diabolinux aos poucos se fuderam um com os outros. O canibalismo era a priori do sistema, só que agora em voga como clemência.
Nadine= Ego Introspectivo e chato.
Nadine é um nome comum em países de língua francesa, é unissex, sei lá o que isso NÃO quer dizer, mas a origem vem do árabe nadhir, ou nadir em português, é engraçado quando o nome passa a personificar uma pessoa, quer dizer não escolhemos nosso nome ao nascer, nossa cultura cristã nos condena desde o nascimento para o prazer egoísta de nossos fracassados pais, filhos da década perdida.
Nadine estava nascendo para o significado de seu nome que é algo ligado à vida de seres da civilização de intraterrenos, no ponto extremo do oposto da terra ao zênite, e ela mais que ninguém neste momento se sentia enterrada viva por uma desilusão e traição de uma paixonite boba. Engraçado que Nadine significa também esperança na língua eslava. Vai entender?Daí então a junção dos dois... Esperança subterrânea. O oposto do absurdo pode se basear no absurdo da esperança de que quando descobrimos que o caminho que fazemos pode está nos levando para o certo do que somos, o nada de nós mesmos em nossas conseqüências.
Eu e nem ninguém do grupo Diabolinux queríamos compactuar com aquilo e sabia que Nadine do jeito que estava era sinal de problemas, e não tínhamos nada haver com o problema dela, afinal ela foi agregada ao grupo por ser uma das damas de companhia do dudú, mentor intelectual do grupo, filho de farmacêutico bem sucedido. E ele não ia dar as caras, como eu sabia, agora ele estava no apartamento de Roxane, ex-garota de programa aspirante a dona de casa, seu sonho medroso incrustado no íntimo mas fadado ao silêncio em que agora dá seus primeiros passo a efetivação de logros sinais com o dudú, uma atriz da vida com umas cicatrizes reais e simpáticas no rosto, era única coisa simpática que ela tinha mesmo, de resto era mais um bagulho exótico para os prazeres bizarros do dudú, Nadine era apenas uma formalização para seu status social de macho de grupo, como ele mesmo dizia sobre a namorada: "não gosto muito dessas personalidades de mosca-morta, mas pelo menos não incomoda, até arranjar algo melhor, está vai dando pro gasto".
Ele é a síndrome de Édipo ambulante, Freud deve está se masturbando agora com sua teoria nos confins de algum além.
Já Guido, cinéfilo do grupo, dá um sinal em que todos entendemos.
-Porra! O que eu daria para um puta jazz levanta-cadáveres do Mingus a Mingus!
A senha tava dada.É hora da desova da intrusa chorosa e inconveniente, se tivermos sorte aparece um vampiro resto-de-balada e salva nossa noite arrastando-a para longe.
Jogamos um pouco de conversa fora e o clima ficava cada vez mais denso, Guido conhecia um mané que tentava impressionar as meninas carentes com carreiras de pó, e por mais que ele não tivesse semancol, conseguia sempre com isto uma barganha de companhia, era tiro e queda, mas ele estava meio sumido esses tempos, mas naquele dia ele foi nossa salvação.
Ferreira sempre gostou de se apresentar como Ferrer. Guido perguntou ao Ferrer se ele tinha como dividir umas neves, disse que tinha alguém mais para compartilhar com ele se não fosse problema, Ferrer olhou pra Nadine e disse:
-Conheço essa cara, está no ponto, como se hipnotiza uma galinha com risco branco. Dessa linha que vou dar que não é nada imaginária, o veneno ta trincando!!! Sente só...
Guido assobia:
-Nadine! Vem cá! Quebra um galho fazendo uma presença no banheiro só pra filmar a porta se assim quiser...Mas se quiser dá um tiro rola, nosso amigo Ferrer é generoso com garotas carinha-de-anjo como o seu.
Meu... Sei lá! Só vou ajudar a filmar!
Não fique preocupada com o Ferrer, é meio bobo com essas gírias de malaco de periferia. Mas é só máscara de cafetão bad boy ding-ling, mas ele é uma moça que gosta de moças, vai por mim.
Guido grita em minha direção...
-Juca, não seca a mesa com a língua que quando eu voltar tomamos uma saideira por minha conta.
Guido...Tão baitola com esta prepotência narcisista comum no mundo dos cinéfilos, que então retruquei.
-Não esquece o rabo lá, é ele que vai pagar nossa cerveja.
Guido entra primeiro no banheiro com o Ferrer, Nadine primeiro filma por fora, olha e Guido sai:
-Porra! Se fosse você não perdia este tiro, faz obesos flutuar!
-Tem certeza?
-É!
-Acho que não vai ser uma má idéia!
-Vai lá garota mandar ver que estou aqui fora!
A porta se fecha e ele logo sai da frente da porta.
-E aí Guido? É bom? Dá pra trincar mesmo?
-Que nada cara, aquilo é uma porcaria, borra de bicarbonato com amoníaco, de longe era coca...e tem um monte de moleca que cai nas lorotas desse cara!
-E a Nadine?
-Quando vi que ela mandou ver em duas carreiras dessa merda duma só vez...Para quem não queria nada...Agora já deve está caindo de boca no Ferrer acreditando que ta pirando com o lixo que enfiou no nariz!
-Então? Vamos ficar aqui esperando este projeto de pomba-gira atrasar nosso lado?
-Vamos pra outro boteco tomar a saideira em homenagem a cuba-libre da Nadine, que hoje ela tá feita, pegou o otário ideal, o texto e a panela.
Nesta hora o negreiro das 5 horas passa pela Nove de Julho, já é Domingo, com a carga e cheiro violento dos trabalhadores, com perfumes que não diferencia muito dos defumadores, sabão-em-pó e anis e misturado a isso dentro do ônibus, a carga de trabalhadores choca-se ao cheiro dos baladeiros, algo semelhante ao fim de festa em terreiro de umbanda.
Guido, a "moderna" Biba eurocentrica não perdoa tal quadro e diz:
-Oh! Perdoai-vos! Eles não sabem o que fazem! E Guido prossegue...
-Não é o nariz deles que estão entupidos, é o bom senso e sua maldição que morreu de afogado!
(Continua a saga de Nadine e sua Cuba-Livre)

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