[EZLN] SCI Marcos - Cheirar o negro: o calendário e a geografia do medo
Na quinta parte da série de artigos "Nem o centro e nem a periferia", o Subcomandante nos fala sobre medo, sobre o cheiro do medo, e a superação do medo. Medo, sobretudo, da diferença. Nos conta a história de amor de Elías Contrerar, Comissão de Investigação EZLN, com Magdalena, que não era nem mulher nem homem.
Também saiba mais sobre a atual forma oraganizativa das BAZ (Bases de Apoio Zapatistas) atravez dos Caracoles e Juntas de Bom Governo
Leia Também Sobre "Sexta Declaração da Selva Lacandona"
Participação na conferência vespertina do dia 15 de dezembro.
Nem o centro nema periferia...
Parte V – Cheirar o negro
O calendário e a geografia do medo
“Quando parece que nada fica, ficam os princípoios”
Don Durito de A Lacandona
Dizia o Velho Antonio que a liberdade tinha haver também com o ouvido, a palavra e a observação. Que a liberdade era quando não tivéssemos medo da observação e da palavra do outro, do diferente. Mas também que não tivéssemos medo de ser observados e escutados pelos outros. E logo acrescentou que se podia cheirar o medo, e que abaixo e acima esse medo expelia um odor diferente. Digo mais, que a liberdade não estavam em um lugar, e sim que havia que fazê-la, contruí-la em coletivo. Que, sobretudo, não se pode fazer sobre o medo do outro, pois por mais que ele seja diferente, é como nós.
Isto vem ao caso ou à coisa, porque nós pensamos que, mais que a quantidade de pessoas no movimento, mais que seu impacto midiático ou a contundência de suas ações, mais que a clareza e o radicalidade de seu programa, o mais importante é a ética desse movimento. Isso é o que lhe dá coesão interna, o define, lhe dá identidade... e futuro.
Já em outra ocasião falamos, e falaremos, do que são os fundamentos de nossa ética zapatista.
Agora queremos nos referir, brevemente, à não-ética de cima, à ética do medo.
Sobre o medo e, mais especificamente, sobre o medo da transformação, o sistema tem construído, com especial paciência, um edifício inteiro de razões para não lutar.
Há um “não” para cada um, mais ou menos simples ou complexo segundo o destinado a usá-lo.
Vamos deixar de lado, por um momento, as condições materiais que permitem e marcam este que podemos chamar “o império do medo”, uma das características definidoras do sistema capitalista, e nos concentremos em sua existência, sua divisão e hierarquia.
Suponhamos que um dos medos mais elaborados é o medo do outro, ao diferente, quer dizer, ao que desconhecemos.
Só farei uma separação, esperando que possam desenvolver-se logo:
l O medo de Gênero. Mas não só da mulher ao homem e vice-versa, também o medo da mulher à mulher e do homem ao homem.
l O medo da Geração. Entre os mais velhos, adultos, jovens e meninos e meninas.
l O medo do Outro. Contra homossexuais, lésbicas, transsexuais e as outras realidade que, não porque as desconheçamos, deixam de ter existência.
l O medo da Identidade ou da Raça. Entre indígenas, mestiços, nacionais, estrangeiros.
A liberdade que queremos deverá também vencer estes medos.
***
Aqui foi dito antes, e com razão, que as lutas anti-sistêmicas não devem circunscrever-se unicamente ao que os ortodoxos chamam de infraestrutura ou base das relações sociais capitalistas.
O fato de sustentarmos que o núcleo central do domínio capitalista está na propriedade dos meios de produção, não significa que ignoremos (no duplo sentido de desconhecer e de não dar importância) os outros espaços de domínio.
É claro para nós que as transformações não devem apenas se focar nas condições materiais. Por isso para nós não há hierarquia de âmbitos; não sustentamos que a luta pela terra é prioritária sobre a luta de gênero, nem que esta é mais importante que o reconhecimento e o respeito à diferença.
Pensamos, ao contrário, que todas as ênfases são necessárias e que devemos ser humildes e reconhecer que não há atualmente organização ou movimento que possa valorizar todos os aspectos da luta anti-sistêmica, quer dizer, anticapitalista.
Este reconhecimento é a base de nossa Sexta Declaração da Selva Lacandona. Ela parte do reconhecimento e aceitação da largura de nosso sonho e da estreiteza de nossa força.
Por exemplo, temos assinalado alguns aspectos da luta de gênero no sonho do zapatismo, e no próximo encontro poderão conhecer isto em primeira mão. Mas nós reconhecemos que existe avanços mais substanciais em outros coletivos, grupos, organizações e individu@s que possuem este objetivo.
Pensamos que a própria realidade de nossa existência como EZLN não poucas vezes apresenta obstáculos e travas que não podem ser resolvidos em nossa lógica interna. Por isso buscamos e pedimos uma relação eqüitativa com as companheiras e os companheiros que tem avançado mais que nós na luta de gênero.
Contudo queremos que não confundam ensinar com mandar, nem aprender com obedecer. Cremos que é possível construir uma relação de respeito onde nossa realidade avance em transformações profundas neste aspecto e sabemos duas coisas: que não podemos fazê-lo por nós mesmos, sozinhos; e que necessitamos desta relação com os movimentos.
Não oferecemos nada em troca, nada de material quero dizer. Tampouco oferecemos unidade orgânica, nem hierarquia de mando ou obediência em um ou outro sentido.
O que oferecemos é a disposição de conhecer, respeitar e aprender.
O que vocês podem e, creio eu, devem nos dar, terá seu próprio processo de assimilação e algo novo sairá.
Este novo não será nem um cópia de suas propostas nem uma repetição justificada de nossa imperfeita realidade (sobretudo nesta da luta de gênero), e sim uma forma nova, a nossa forma, de assumir esta luta e levá-la adiante.
Isto que falo da luta de gênero, que é onde o EZLN reconhece que temos mais dificuldades, é válido para todas as lutas e modos que não conhecemos, não abrangemos ou não conseguimos até então cobrir.
O EZLN é uma organização que tem recusado claramente hegemonizar e homogeneizar em suas relações com outros grupos, coletivos, organizações, povos e indivíduos, inclusive com outras realidades organizadas ou não.
Nem sequer no movimento indígena, que é onde está nossa força e nossa primeira identidade, temos aceitado o papel de vanguarda que represente a totalidade do movimento indígena no México.
Às nossas carências evidentes na luta das mulheres podem-se agregar lacunas insuperáveis: os trabalhadores e trabalhadoras da cidade, os movimentos urbanos populares, os jovens e as jovens, os outros amores, e uma verdadeira contestação da luta que A Outra Campanha tem revelado em seus percursos e atividades.
O movimento anti-sistêmico que pretendemos levantar no México parte desta premissa fundamental: tem que ser com o outro, com o diferente que compartilhe as dores e esperanças, que reconhece no sistema capitalista o responsável de sua situação de injustiça.
E isto, pensamos nós, só é possível com o conhecimento mutuo que se deve ao respeito.
Por isso a Sexta Declaração e A Outra Campanha no México tem seguido os passos que até agora se tem dado: uma chamada, uma apresentação onde cada um diz quem era, onde estava, como veio ao mundo e ao nosso país, o que queria e como pensava fazê-lo.
Neste processo de conhecimento, alguns, algumas, souberam que este não era o seu lugar, nem seu tempo. Que não eram seu calendário e nem a sua geografia. Puderam dizer uma ou outra coisa, mas é esta a causa fundamental de sua distância atual.
Não é e nem tem sido o objetivo do EZLN criar um movimento abaixo de sua hegemonia e homogeneizado com seus tempos, modos e não modos.
Queríamos, e queremos, um movimento amplo, com toda a extensão do de baixo de nosso país, mas com objetivos claros, diáfanos, definitivos e definitórios: a transformação radical e profunda de nosso país, quer dizer, a destruição do sistema capitalista.
Não temos mentido, nem antes, nem agora.
Não nos interessam os remendos nem as reformas, simples e sensivelmente porque não remendam nada e não reformam nem sequer o mais superficial.
Falamos sem rodeios àqueles que nos querem escutar: o que nos interessa é que se reconheçam nossos direitos, que nos deixem ser o que somos e como somos, em suma, que nos deixem em paz.
Não nos interessa nem os postos, nem os cargos, nem as estátuas e monumentos, nem o museus, nem passar para a história, nem prêmios, nem honores, nem homenagens.
O que queremos é poder levantarmos cada manhã sem que o medo esteja na agenda do dia.
O medo de ser indígena, mulheres, trabalhador@s, homossexuais, lésbicas, jovens, anciãos, crianças, outras e outros.
Mas pensamos que isto não é possível no sistema atual, no capitalismo.
Temo buscado e temos encontrado pensamentos e experiências diferentes, mas similares.
Temos sido parte, sobretudo algum@s, do mais formoso exército pedagógico que os céus e solos mexicanos tem contemplado em toda sua história.
Tem sido, e é, uma honra chamar companheiras e companheiros dos povos, organizações, grupos, coletivos e individu@s de todos os aspectos da oposição anticapitalista em nosso país.
Não somos muitos, muitas, é verdade. Mas somos. E nestes tempos de indefinição convenenciera, este ser é, e será, a peça ou o sonho que sonhamos necessário para colocar para andar a realidade em seu largo caminho.
***
ELÍAS CONTRERAS EXPLICA À MAGDALENA SUA MUITO PECULIAR VERSÃO DO AMOR E ESSAS COISAS.
Creio que podemos imaginá-lo tudo. Imaginar a conversação, o calendário e a geografia em que se deu. Imaginar que Magdalena e Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, estão fazendo qualquer coisa. Mas imaginar que, quando ouvimos e escutamos, o que vemos e escutamos é o seguinte...
Existe uma noite que se precipita sobre a tarde, retirando-a fora do dia e fora do tempo, estendendo seus negros e suas sombras por todos os recantos, permitindo só algumas luzes e brilhos.
Tem sido tão rápida esta invasão obscura, que tem surpreendido Elías Contreras e Magdalena no caminho a voltar do milharal.
Já estão próximo do povoado, mas a noite é tão densa e tão imprevista que as breves luzes que povoam a aldeia, todavia, não estão claras.
Como se os cocuyos, estralas, lua e lampejos ficaram em outro calendário ou estavam errados na geografia e não chegaram a tempo da noite que já era dona e senhora nas montanhas do sudeste mexicano.
Elías Contreras sabe. Conhece, com a força da caminhada, os caminhos que a noite cira sobre os caminhos do dia. Por isso é que Elías toma a mão de Magdalena, que estava paralisada com um suspiro de medo quando se via o negro.
Magdalena está nestas terras porque veio ajudar Elías Contreras no combate contra o mal e ao mau, mas este não é seu lugar. Ela, ou ele, conforme dizem, é cidadão ou cidadã. E na cidade, ainda mais na cidade onde vivia Magdalena, a noite nunca se completa. Com tantas luzes pelejando por um espaço, a noite ali apenas é um pretexto para que cada uma delas, das luzes, se definam.
A mão de Elías tranqüilizou Magdalena. Por uns instantes essa mão é seu único apoio para a realidade. Quase imediatamente, Elías colocou a mão de Magdalena nas partes baixas de suas costas, de modo que segurasse no cinto de Elías.
“Não de soltes”, disse Elías.
O medo fez com que Magdalena não conseguisse sussurrar e só pensasse:
“Nem loca”, ou logo, segundo alguns.
Elías saiu do caminho real e seus grandes charcos e lodos, e se adentra por entre os arvoredos. Devagar caminha Elías, cuidando para que Magdalena não tropece.
No olhar cego de Magdalena aparecem terrores e fantasmas que não são da terra: os judiciais rodeando-a, pondo um saco malcheiroso em tua cabeça. Os golpes e as zombarias em si. Não ver, não saber. Os ruídos que vão apagando. A discussão entre eles sobre o dinheiro que lhes roubam. Os turnos para violá-la/violá-lo. O ruído em si afastando-se. O desmaio. O cachorro que farejava o sangue das feridas...
Já chemos já – disse a voz de Elías, e Magdalena, contudo, treme ao sentar sobre um tronco.
Em pouco tempo Magdalena se localiza. Elías sabe o que faz. O lugar onde estão tem uma luz parda que não chega a iluminar, mas sim a definir objetos e distâncias.
Parece que Elías pensa que Magdalena treme por causa do frio, e a envolve com o náilon que, prevendo as chuvas, leva em sua morraleta.
“Onde?”, pergunta Magdalena.
Elías parece saber que o que Magdalena quer saber é a origem dessa luz dispersa e difusa.
“São cogumelos”, diz Elías acendendo um fósforo cuja luz apaga tudo e deixa só sua visão. “De dia agarram luz, e de noite vão soltando de pouquinho a pouquinho, para que dure, para que tarde, para que não logo se prevaleça a obscuridade”.
Contestando uma pergunta que não chega, Elías diz:
“Estes não se podem comer, só servem para olher”.
Não é a voz e sim o cheiro de Elías que vai tranqüilizando Magdalene. Uma mistura de raiz, ramas, terra, tabaco, suor.
“Aqui vamos esperar um pouco até que a noite apanhe seu passo e deixe de andar correndo”, disse Elías.
Magdalena, sentada ao seu lado, se agarra a seu braço e repousa sua cabeça sobre o ombro de Elías.
Algo fica pensando, porque, de pronto, lhe solta de Alías:
“Escuta Elías, tu tem estado com uma mulher?”.
Elías se engasga com o fumo de cigarro e nota que seu corpo se mostra nervoso. Sua voz é apenas um fio quando responde:
“Err... bom, sim, nas reuniões... e nos trabalhos... e nas festas... chegam as companheiras... e falamos da luta... e dos trabalhos... e falamos... sim.... nas reuniões...”.
“Não te faças de bobo Elías, tu sabes do que estou falando”, o interrompe Magdalena.
Se houvesse um pouco mais de luz, poderíamos ver que o rosto de Elías é um semáforo: primeiro aparece a cor vermelha, logo a amarela e agora está adquirindo uma cor verde lminosa.
“Err... Mmh... Err... Ou seja, o que você está perguntando é se tenho feito amor?”.
Magdalena ri de boa fé ao escutar o modo com que Elías se refere a ter relações sexuais.
“Sim”, disse rindo, “pergunto se já tens feito amor”.
As cores de Elías seguem agora o caminho inverso: do verde ao amarelo e daí ao vermelho.
“Bem, sim, mas não vulgar, um pouco, ou seja mais ou menos, apenas...”.
A noite é fria, como esta que caminhamos, mas Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, tem já a camisa ensopada de suor.
Magdalene está desfrutando do embaraço de Elías e não faz nada para aliviá-lo.
Ao contrário, alarga seu silencio para que Elías tenha que continuar com a palara...
“Bom, Magdalena, não vou mentir para você. Não me lembro, de repente sim e de repente não... Mas me lembro que eu li um livro que encontrei e que se chama 'Já pensas no amor?' e eu vi bem como é isso”.
Magdalena, ainda que não seja nem homem nem mulher, é bem burra (sem ofender aos que me escutam ou leem), e o nervosismo de Elías lhe faz esquecer os fantasmas que há uns minutos lhe assediavam, assim o pergunta...
“Assim? E como é isso?”, e se aproxima mais do flanco de Elías.
A cor de Elías já é a do cogumelos fosforescentes que cobre os troncos e as ramas das proximidades.
Mas Elías Contreras é Comissão de Investigação do EZLN, e tem enfrentado uma multiplicidade de perigos e situações imprevistas, assim que respira fundo enquanto pensa:
“Um cigarro, vou acender um cigarro. Onde deixei os cigarros? Acendo um cigarro e assim me dá tempo de ajustar meu pensamento, acendo um cigarro. E se não acender o palito? Pois como diz o Sup, se escangalhar essa senhora Roma, bom, já. E se o palito não acender?”.
Elías inicia então sua explicação:
“Bem Magdalena, arresulta que estão, como quem diz, ele esse-como-se-chama e o outro tal, e este assim, como que se não está pensando em nada, mas prontamente como que já pensa algo e pois então, acontece...”
Elías duvida, depois diz:
“Bem, creio que é melhor te explicar de outra forma porque desta você não vai entender...”
Magdalena tem um sorriso malicioso que a escuridão oculta quando diz:
“Bom”.
Elías começa:
“Bem, pois arresulta que há uns que se chamam meios de produção, porque os pichitos não são logo pichitos, pois que primeiro não produtos. Então os produtos se fazem com meios de produção. Ah e também com matéria-prima.
Daí então arresulta que este é o meio de produção do homem que é assim como algo para produzir produtos, mas não puro nem só, pois necessita de outro meio de produção e então já se fala em um menino e fazem acordo para a produção e põem a matéria-prima e produzem o produto e sempre um ou uma, dizem, se cansa, mas assim como um cansaço bom, contente.
Contudo não é assim que chega um e diz a muchacha 'escuta, vamos fazer uma produção de um produto', e sim que como quem diz dando volta e vão os dois voltando, voltando e logo fazem um acordo, e logo tarda uns meses e sai no produto e já colocam nome porque vão estar dizendo 'olhe o produto, veza ele trazer a água e a lenha', pois é preciso que tenha um nome, e logo si é produta precisa também por um nome.
Daí que o homem é importante, mas não muito porque só é um, ou uma, dizem, se é zapatista pode escolher logo seu nome de luta, mas tem que ir pensando bem porque alogo um já não sabe se fica assim.
Aí está por exemplo o Sup, que escolheu o nome de Sup e já escangalhou Roma porque continuará se chamando Sup. Invés disso eu escolhi Elías, mas nem todos sabem assim que posso por outro nome.
Isto é tudo em minhas palavras e espero que entendeste Magdalena e se caso não tenha entendido, outro dia te explico porque já é tarde e temos que chegar ao povoado”.
Magdalena até doendo a barriga estava de tanto rir escutando a explicação de Elías, mas re compõe e diz:
“Bom, então me explicas outro dia”.
A noite já é mais clara quando Elías Contreras caminha colina abaixo com Magdalena nos braços. É Elías quem rompe o silêncio:
“Oi Magdalena. Já não tens medo se estás comigo”.
Magdalena apenas se detém para perguntar:
“Como supôs que tive medo?”.
“O medo se cheira”, diz Elías retomando o passo.
“Cheira como o pesadelo, como o mal sonho, como a vergonha e apena”.
Já é madrugada quando chegam à beira do povoado.
Magdalena pergunta:
“E como cheira a alegria?”
Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, estende o braço como se tendesse a manhã e diz:
“Assim...”
Uma odor de capim e dignas terras rebeldes se levanta e cheira tanto que quase se pode ver e tocar e provar e escutar e pensar e sentir.
Como se a manhã tivesse se debruçada ao hoje por um instante só e tivesse mostrado seu tesouro mais fantástico, terrível e maravilhoso, quer dizer, sua possibilidade.
Agradecido, boa noite. Nos vemos amanhã.
Subcomandante Insurgente Marcos.
San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, México.
Dezembro de 2007.
Original: http://enlacezapatista.ezln.org.mx/comision-sexta/858/
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Participação na conferência vespertina do dia 15 de dezembro.
Nem o centro nema periferia...
Parte V – Cheirar o negro
O calendário e a geografia do medo
“Quando parece que nada fica, ficam os princípoios”
Don Durito de A Lacandona
Dizia o Velho Antonio que a liberdade tinha haver também com o ouvido, a palavra e a observação. Que a liberdade era quando não tivéssemos medo da observação e da palavra do outro, do diferente. Mas também que não tivéssemos medo de ser observados e escutados pelos outros. E logo acrescentou que se podia cheirar o medo, e que abaixo e acima esse medo expelia um odor diferente. Digo mais, que a liberdade não estavam em um lugar, e sim que havia que fazê-la, contruí-la em coletivo. Que, sobretudo, não se pode fazer sobre o medo do outro, pois por mais que ele seja diferente, é como nós.
Isto vem ao caso ou à coisa, porque nós pensamos que, mais que a quantidade de pessoas no movimento, mais que seu impacto midiático ou a contundência de suas ações, mais que a clareza e o radicalidade de seu programa, o mais importante é a ética desse movimento. Isso é o que lhe dá coesão interna, o define, lhe dá identidade... e futuro.
Já em outra ocasião falamos, e falaremos, do que são os fundamentos de nossa ética zapatista.
Agora queremos nos referir, brevemente, à não-ética de cima, à ética do medo.
Sobre o medo e, mais especificamente, sobre o medo da transformação, o sistema tem construído, com especial paciência, um edifício inteiro de razões para não lutar.
Há um “não” para cada um, mais ou menos simples ou complexo segundo o destinado a usá-lo.
Vamos deixar de lado, por um momento, as condições materiais que permitem e marcam este que podemos chamar “o império do medo”, uma das características definidoras do sistema capitalista, e nos concentremos em sua existência, sua divisão e hierarquia.
Suponhamos que um dos medos mais elaborados é o medo do outro, ao diferente, quer dizer, ao que desconhecemos.
Só farei uma separação, esperando que possam desenvolver-se logo:
l O medo de Gênero. Mas não só da mulher ao homem e vice-versa, também o medo da mulher à mulher e do homem ao homem.
l O medo da Geração. Entre os mais velhos, adultos, jovens e meninos e meninas.
l O medo do Outro. Contra homossexuais, lésbicas, transsexuais e as outras realidade que, não porque as desconheçamos, deixam de ter existência.
l O medo da Identidade ou da Raça. Entre indígenas, mestiços, nacionais, estrangeiros.
A liberdade que queremos deverá também vencer estes medos.
***
Aqui foi dito antes, e com razão, que as lutas anti-sistêmicas não devem circunscrever-se unicamente ao que os ortodoxos chamam de infraestrutura ou base das relações sociais capitalistas.
O fato de sustentarmos que o núcleo central do domínio capitalista está na propriedade dos meios de produção, não significa que ignoremos (no duplo sentido de desconhecer e de não dar importância) os outros espaços de domínio.
É claro para nós que as transformações não devem apenas se focar nas condições materiais. Por isso para nós não há hierarquia de âmbitos; não sustentamos que a luta pela terra é prioritária sobre a luta de gênero, nem que esta é mais importante que o reconhecimento e o respeito à diferença.
Pensamos, ao contrário, que todas as ênfases são necessárias e que devemos ser humildes e reconhecer que não há atualmente organização ou movimento que possa valorizar todos os aspectos da luta anti-sistêmica, quer dizer, anticapitalista.
Este reconhecimento é a base de nossa Sexta Declaração da Selva Lacandona. Ela parte do reconhecimento e aceitação da largura de nosso sonho e da estreiteza de nossa força.
Por exemplo, temos assinalado alguns aspectos da luta de gênero no sonho do zapatismo, e no próximo encontro poderão conhecer isto em primeira mão. Mas nós reconhecemos que existe avanços mais substanciais em outros coletivos, grupos, organizações e individu@s que possuem este objetivo.
Pensamos que a própria realidade de nossa existência como EZLN não poucas vezes apresenta obstáculos e travas que não podem ser resolvidos em nossa lógica interna. Por isso buscamos e pedimos uma relação eqüitativa com as companheiras e os companheiros que tem avançado mais que nós na luta de gênero.
Contudo queremos que não confundam ensinar com mandar, nem aprender com obedecer. Cremos que é possível construir uma relação de respeito onde nossa realidade avance em transformações profundas neste aspecto e sabemos duas coisas: que não podemos fazê-lo por nós mesmos, sozinhos; e que necessitamos desta relação com os movimentos.
Não oferecemos nada em troca, nada de material quero dizer. Tampouco oferecemos unidade orgânica, nem hierarquia de mando ou obediência em um ou outro sentido.
O que oferecemos é a disposição de conhecer, respeitar e aprender.
O que vocês podem e, creio eu, devem nos dar, terá seu próprio processo de assimilação e algo novo sairá.
Este novo não será nem um cópia de suas propostas nem uma repetição justificada de nossa imperfeita realidade (sobretudo nesta da luta de gênero), e sim uma forma nova, a nossa forma, de assumir esta luta e levá-la adiante.
Isto que falo da luta de gênero, que é onde o EZLN reconhece que temos mais dificuldades, é válido para todas as lutas e modos que não conhecemos, não abrangemos ou não conseguimos até então cobrir.
O EZLN é uma organização que tem recusado claramente hegemonizar e homogeneizar em suas relações com outros grupos, coletivos, organizações, povos e indivíduos, inclusive com outras realidades organizadas ou não.
Nem sequer no movimento indígena, que é onde está nossa força e nossa primeira identidade, temos aceitado o papel de vanguarda que represente a totalidade do movimento indígena no México.
Às nossas carências evidentes na luta das mulheres podem-se agregar lacunas insuperáveis: os trabalhadores e trabalhadoras da cidade, os movimentos urbanos populares, os jovens e as jovens, os outros amores, e uma verdadeira contestação da luta que A Outra Campanha tem revelado em seus percursos e atividades.
O movimento anti-sistêmico que pretendemos levantar no México parte desta premissa fundamental: tem que ser com o outro, com o diferente que compartilhe as dores e esperanças, que reconhece no sistema capitalista o responsável de sua situação de injustiça.
E isto, pensamos nós, só é possível com o conhecimento mutuo que se deve ao respeito.
Por isso a Sexta Declaração e A Outra Campanha no México tem seguido os passos que até agora se tem dado: uma chamada, uma apresentação onde cada um diz quem era, onde estava, como veio ao mundo e ao nosso país, o que queria e como pensava fazê-lo.
Neste processo de conhecimento, alguns, algumas, souberam que este não era o seu lugar, nem seu tempo. Que não eram seu calendário e nem a sua geografia. Puderam dizer uma ou outra coisa, mas é esta a causa fundamental de sua distância atual.
Não é e nem tem sido o objetivo do EZLN criar um movimento abaixo de sua hegemonia e homogeneizado com seus tempos, modos e não modos.
Queríamos, e queremos, um movimento amplo, com toda a extensão do de baixo de nosso país, mas com objetivos claros, diáfanos, definitivos e definitórios: a transformação radical e profunda de nosso país, quer dizer, a destruição do sistema capitalista.
Não temos mentido, nem antes, nem agora.
Não nos interessam os remendos nem as reformas, simples e sensivelmente porque não remendam nada e não reformam nem sequer o mais superficial.
Falamos sem rodeios àqueles que nos querem escutar: o que nos interessa é que se reconheçam nossos direitos, que nos deixem ser o que somos e como somos, em suma, que nos deixem em paz.
Não nos interessa nem os postos, nem os cargos, nem as estátuas e monumentos, nem o museus, nem passar para a história, nem prêmios, nem honores, nem homenagens.
O que queremos é poder levantarmos cada manhã sem que o medo esteja na agenda do dia.
O medo de ser indígena, mulheres, trabalhador@s, homossexuais, lésbicas, jovens, anciãos, crianças, outras e outros.
Mas pensamos que isto não é possível no sistema atual, no capitalismo.
Temo buscado e temos encontrado pensamentos e experiências diferentes, mas similares.
Temos sido parte, sobretudo algum@s, do mais formoso exército pedagógico que os céus e solos mexicanos tem contemplado em toda sua história.
Tem sido, e é, uma honra chamar companheiras e companheiros dos povos, organizações, grupos, coletivos e individu@s de todos os aspectos da oposição anticapitalista em nosso país.
Não somos muitos, muitas, é verdade. Mas somos. E nestes tempos de indefinição convenenciera, este ser é, e será, a peça ou o sonho que sonhamos necessário para colocar para andar a realidade em seu largo caminho.
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ELÍAS CONTRERAS EXPLICA À MAGDALENA SUA MUITO PECULIAR VERSÃO DO AMOR E ESSAS COISAS.
Creio que podemos imaginá-lo tudo. Imaginar a conversação, o calendário e a geografia em que se deu. Imaginar que Magdalena e Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, estão fazendo qualquer coisa. Mas imaginar que, quando ouvimos e escutamos, o que vemos e escutamos é o seguinte...
Existe uma noite que se precipita sobre a tarde, retirando-a fora do dia e fora do tempo, estendendo seus negros e suas sombras por todos os recantos, permitindo só algumas luzes e brilhos.
Tem sido tão rápida esta invasão obscura, que tem surpreendido Elías Contreras e Magdalena no caminho a voltar do milharal.
Já estão próximo do povoado, mas a noite é tão densa e tão imprevista que as breves luzes que povoam a aldeia, todavia, não estão claras.
Como se os cocuyos, estralas, lua e lampejos ficaram em outro calendário ou estavam errados na geografia e não chegaram a tempo da noite que já era dona e senhora nas montanhas do sudeste mexicano.
Elías Contreras sabe. Conhece, com a força da caminhada, os caminhos que a noite cira sobre os caminhos do dia. Por isso é que Elías toma a mão de Magdalena, que estava paralisada com um suspiro de medo quando se via o negro.
Magdalena está nestas terras porque veio ajudar Elías Contreras no combate contra o mal e ao mau, mas este não é seu lugar. Ela, ou ele, conforme dizem, é cidadão ou cidadã. E na cidade, ainda mais na cidade onde vivia Magdalena, a noite nunca se completa. Com tantas luzes pelejando por um espaço, a noite ali apenas é um pretexto para que cada uma delas, das luzes, se definam.
A mão de Elías tranqüilizou Magdalena. Por uns instantes essa mão é seu único apoio para a realidade. Quase imediatamente, Elías colocou a mão de Magdalena nas partes baixas de suas costas, de modo que segurasse no cinto de Elías.
“Não de soltes”, disse Elías.
O medo fez com que Magdalena não conseguisse sussurrar e só pensasse:
“Nem loca”, ou logo, segundo alguns.
Elías saiu do caminho real e seus grandes charcos e lodos, e se adentra por entre os arvoredos. Devagar caminha Elías, cuidando para que Magdalena não tropece.
No olhar cego de Magdalena aparecem terrores e fantasmas que não são da terra: os judiciais rodeando-a, pondo um saco malcheiroso em tua cabeça. Os golpes e as zombarias em si. Não ver, não saber. Os ruídos que vão apagando. A discussão entre eles sobre o dinheiro que lhes roubam. Os turnos para violá-la/violá-lo. O ruído em si afastando-se. O desmaio. O cachorro que farejava o sangue das feridas...
Já chemos já – disse a voz de Elías, e Magdalena, contudo, treme ao sentar sobre um tronco.
Em pouco tempo Magdalena se localiza. Elías sabe o que faz. O lugar onde estão tem uma luz parda que não chega a iluminar, mas sim a definir objetos e distâncias.
Parece que Elías pensa que Magdalena treme por causa do frio, e a envolve com o náilon que, prevendo as chuvas, leva em sua morraleta.
“Onde?”, pergunta Magdalena.
Elías parece saber que o que Magdalena quer saber é a origem dessa luz dispersa e difusa.
“São cogumelos”, diz Elías acendendo um fósforo cuja luz apaga tudo e deixa só sua visão. “De dia agarram luz, e de noite vão soltando de pouquinho a pouquinho, para que dure, para que tarde, para que não logo se prevaleça a obscuridade”.
Contestando uma pergunta que não chega, Elías diz:
“Estes não se podem comer, só servem para olher”.
Não é a voz e sim o cheiro de Elías que vai tranqüilizando Magdalene. Uma mistura de raiz, ramas, terra, tabaco, suor.
“Aqui vamos esperar um pouco até que a noite apanhe seu passo e deixe de andar correndo”, disse Elías.
Magdalena, sentada ao seu lado, se agarra a seu braço e repousa sua cabeça sobre o ombro de Elías.
Algo fica pensando, porque, de pronto, lhe solta de Alías:
“Escuta Elías, tu tem estado com uma mulher?”.
Elías se engasga com o fumo de cigarro e nota que seu corpo se mostra nervoso. Sua voz é apenas um fio quando responde:
“Err... bom, sim, nas reuniões... e nos trabalhos... e nas festas... chegam as companheiras... e falamos da luta... e dos trabalhos... e falamos... sim.... nas reuniões...”.
“Não te faças de bobo Elías, tu sabes do que estou falando”, o interrompe Magdalena.
Se houvesse um pouco mais de luz, poderíamos ver que o rosto de Elías é um semáforo: primeiro aparece a cor vermelha, logo a amarela e agora está adquirindo uma cor verde lminosa.
“Err... Mmh... Err... Ou seja, o que você está perguntando é se tenho feito amor?”.
Magdalena ri de boa fé ao escutar o modo com que Elías se refere a ter relações sexuais.
“Sim”, disse rindo, “pergunto se já tens feito amor”.
As cores de Elías seguem agora o caminho inverso: do verde ao amarelo e daí ao vermelho.
“Bem, sim, mas não vulgar, um pouco, ou seja mais ou menos, apenas...”.
A noite é fria, como esta que caminhamos, mas Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, tem já a camisa ensopada de suor.
Magdalene está desfrutando do embaraço de Elías e não faz nada para aliviá-lo.
Ao contrário, alarga seu silencio para que Elías tenha que continuar com a palara...
“Bom, Magdalena, não vou mentir para você. Não me lembro, de repente sim e de repente não... Mas me lembro que eu li um livro que encontrei e que se chama 'Já pensas no amor?' e eu vi bem como é isso”.
Magdalena, ainda que não seja nem homem nem mulher, é bem burra (sem ofender aos que me escutam ou leem), e o nervosismo de Elías lhe faz esquecer os fantasmas que há uns minutos lhe assediavam, assim o pergunta...
“Assim? E como é isso?”, e se aproxima mais do flanco de Elías.
A cor de Elías já é a do cogumelos fosforescentes que cobre os troncos e as ramas das proximidades.
Mas Elías Contreras é Comissão de Investigação do EZLN, e tem enfrentado uma multiplicidade de perigos e situações imprevistas, assim que respira fundo enquanto pensa:
“Um cigarro, vou acender um cigarro. Onde deixei os cigarros? Acendo um cigarro e assim me dá tempo de ajustar meu pensamento, acendo um cigarro. E se não acender o palito? Pois como diz o Sup, se escangalhar essa senhora Roma, bom, já. E se o palito não acender?”.
Elías inicia então sua explicação:
“Bem Magdalena, arresulta que estão, como quem diz, ele esse-como-se-chama e o outro tal, e este assim, como que se não está pensando em nada, mas prontamente como que já pensa algo e pois então, acontece...”
Elías duvida, depois diz:
“Bem, creio que é melhor te explicar de outra forma porque desta você não vai entender...”
Magdalena tem um sorriso malicioso que a escuridão oculta quando diz:
“Bom”.
Elías começa:
“Bem, pois arresulta que há uns que se chamam meios de produção, porque os pichitos não são logo pichitos, pois que primeiro não produtos. Então os produtos se fazem com meios de produção. Ah e também com matéria-prima.
Daí então arresulta que este é o meio de produção do homem que é assim como algo para produzir produtos, mas não puro nem só, pois necessita de outro meio de produção e então já se fala em um menino e fazem acordo para a produção e põem a matéria-prima e produzem o produto e sempre um ou uma, dizem, se cansa, mas assim como um cansaço bom, contente.
Contudo não é assim que chega um e diz a muchacha 'escuta, vamos fazer uma produção de um produto', e sim que como quem diz dando volta e vão os dois voltando, voltando e logo fazem um acordo, e logo tarda uns meses e sai no produto e já colocam nome porque vão estar dizendo 'olhe o produto, veza ele trazer a água e a lenha', pois é preciso que tenha um nome, e logo si é produta precisa também por um nome.
Daí que o homem é importante, mas não muito porque só é um, ou uma, dizem, se é zapatista pode escolher logo seu nome de luta, mas tem que ir pensando bem porque alogo um já não sabe se fica assim.
Aí está por exemplo o Sup, que escolheu o nome de Sup e já escangalhou Roma porque continuará se chamando Sup. Invés disso eu escolhi Elías, mas nem todos sabem assim que posso por outro nome.
Isto é tudo em minhas palavras e espero que entendeste Magdalena e se caso não tenha entendido, outro dia te explico porque já é tarde e temos que chegar ao povoado”.
Magdalena até doendo a barriga estava de tanto rir escutando a explicação de Elías, mas re compõe e diz:
“Bom, então me explicas outro dia”.
A noite já é mais clara quando Elías Contreras caminha colina abaixo com Magdalena nos braços. É Elías quem rompe o silêncio:
“Oi Magdalena. Já não tens medo se estás comigo”.
Magdalena apenas se detém para perguntar:
“Como supôs que tive medo?”.
“O medo se cheira”, diz Elías retomando o passo.
“Cheira como o pesadelo, como o mal sonho, como a vergonha e apena”.
Já é madrugada quando chegam à beira do povoado.
Magdalena pergunta:
“E como cheira a alegria?”
Elías Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, estende o braço como se tendesse a manhã e diz:
“Assim...”
Uma odor de capim e dignas terras rebeldes se levanta e cheira tanto que quase se pode ver e tocar e provar e escutar e pensar e sentir.
Como se a manhã tivesse se debruçada ao hoje por um instante só e tivesse mostrado seu tesouro mais fantástico, terrível e maravilhoso, quer dizer, sua possibilidade.
Agradecido, boa noite. Nos vemos amanhã.
Subcomandante Insurgente Marcos.
San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, México.
Dezembro de 2007.
Original: http://enlacezapatista.ezln.org.mx/comision-sexta/858/
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