domingo, 22 de agosto de 2010

Sexta Declaración de la Selva Lacandona



EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. MÉXICO
Sexta Declaração da Selva Lacandona.

Leia Aqui Versão original

Esta é a nossa palavra simples que busca tocar o coração da gente humilde e simples como nós, mas, também como nós, digna e rebelde. Este é a nossa palavra simples para contar o que tem sido o nosso caminhar e onde estamos agora, para explicar como vemos o mundo e o nosso país, para dizer o que pensamos fazer e como pensamos fazê-lo, e para convidar outras pessoas a caminharem conosco em algo muito grande que se chama México e em algo maior que se chama mundo. Esta é a nossa palavra simples para dar conta a todos os corações que são honestos e nobres, do que queremos no México e no mundo. Esta é nossa palavra simples porque nossa idéia é de chamar aqueles que são como nós e unirmos a eles, em todos os lugares onde vivem e lutam.
Do que somos.
Nós somos os zapatistas do EZLN, ainda que nos chamem também “neozapatistas”. Bom, mas nós zapatistas do EZLN nos levantamos em armas em janeiro de 1994 porque vimos a quantidade de maldades que nos fazem os poderosos, que só nos humilham, nos roubam, nos prendem e nos matam, e ninguém diz e nem faz nada.
Por isso, nos dissemos “Basta!”, ou seja que já não vamos permitir que nos desprezem e nos tratem pior que os animais. E, então, também dissemos que queremos a democracia, a liberdade e a justiça para todos os mexicanos, ainda que nos tenhamos centrado mais nos povos indígenas. Porque nós do EZLN somos quase todos indígenas daqui de Chiapas, mas não queremos lutar só pelo nosso bem ou só pelo bem dos indígenas de Chiapas, ou só pelos povos indígenas do México, nós queremos lutar sim com todas as pessoas simples e humildes como nós, que passam por grande necessidade e que sofrem a exploração e os roubos dos ricos e de seus maus governos aqui no nosso México e em outros países do mundo.
E então nossa pequena história é que nos cansamos da exploração que nos faziam os poderosos e nos organizamos para nos defendermos e para lutar pela justiça. De início não somos muitos, somos apenas um punhado que andam de um lado pra outro, falando e ouvindo outras pessoas como nós. Fizemos isso durante muitos anos e o fizemos em segredo, ou seja, sem fazer alarde. Ou seja, juntamos nossa força em silêncio. Levamos cerca de 10 anos, depois crescemos e já éramos muitos milhares. Então nos preparamos bem com a política e com as armas, e, de repente, quando os ricos estão celebrando a festa de ano novo, caímos sobre suas cidades e as ocupamos e fizemos saber a todos que estávamos aqui, que eles têm que nos levar em consideração. E depois que os ricos ficaram muito assustados, nos enviaram seus grandes exércitos para que acabassem conosco, como sempre fazem quando os explorados se rebelam, mandam acabar com todos. Mas não conseguiram acabar conosco, porque nós nos preparamos muito bem antes da guerra e nos tornamos fortes em nossas montanhas. E os exércitos andavam por aí procurando-nos e jogando suas bombas e balas contra nós, e já estavam fazendo seus planos de matarem todos os indígenas por não saber quem é e quem não é zapatista. E nós, correndo e combatendo, combatendo e correndo, como fizeram nossos antepassados. Sem que nos entregássemos, sem que nos rendêssemos, sem que nos derrotassem.
Então os moradores das cidades saem as ruas e começam sua gritaria de que se pare com a guerra. Assim, nós paramos nossa guerra e ouvimos estes irmãos e irmãs da cidade que nos dizem para tratarmos de chegar a um acordo, ou seja a um acordo com os maus governos para que o problema seja resolvido sem uma matança. E nós demos atenção a essa gente, porque esta gente é, como dizemos, “o povo”, ou seja o povo mexicano. Assim, colocamos de lado o fogo e tiramos a palavra.
E acontece que os governos disseram que vão se comportar bem sim, vão dialogar, vão fazer acordos e vão cumpri-los. E nós dissemos que está bem, mas também pensamos que está bem que conhecemos esta gente que saiu s ruas para parar a guerra. Então, enquanto estamos dialogando com os maus governos, falamos também com estas pessoas e vimos que a maioria era gente humilde e simples como nós, e ambos, ou seja eles e nós, entendemos bem porque lutamos. Chamamos esta gente de “sociedade civil” porque a maioria não pertencia a partidos políticos, mas era gente comum, como nós, gente simples e humilde.
Mas acontece que os maus governos não queriam um bom acordo, sua artimanha era de falar e chegar a um acordo enquanto estavam preparando seus ataques para eliminar-nos de vez. E então nos atacaram em várias ocasiões, mas não nos venceram porque resistimos bem e muita gente se mobilizou no mundo inteiro. E então os maus governos pensaram que o problema é que muita gente está vendo o que acontece com o EZLN, e começaram seu plano de fazer como se nada estivesse acontecendo. E isso enquanto nos rodeiam, ou sejam nos cercam espera de que, como nossas montanhas ficam em lugar retirado, as pessoas acabassem esquecendo por estar longe da terra zapatista. De tanto em tanto, os maus governos tentam, tratam de nos enganar ou nos atacam, como em fevereiro de 1995 quando nos mandaram uma grande quantidade de tropas, mas não nos derrotaram. Porque, como dizem logo em seguida, não estamos sós, muita gente nos apoiou e resistimos bem.
Depois, os maus governos tiveram que fazer acordos com o EZLN e estes acordos se chamam “Acordos de San Andrés” porque “San Andrés” é o município onde estes acordos foram assinados. Nestes diálogos nós não estávamos sozinhos a falar com os do mau governo, mas convidamos muitas pessoas e organizações que estavam ou estão na luta pelos povos indígenas do México, e todos diziam sua palavra e todos chegávamos a acordos sobre como vamos falar com os maus governos. E assim foi este diálogo no qual não havia só zapatistas de um lado e governos do outro, mas com os zapatistas estavam sim os povos indígenas do México e os que os apoiam. E nestes acordos os maus governos disseram que vão reconhecer os direitos dos povos indígenas do México, vão respeitar sua cultura, e vão transformá-los em lei na Constituição. Mas, depois de assinados, os maus governos se fizeram de esquecidos, passam muitos anos e nada de cumprir estes acordos. Ao contrário, o governo atacou os indígenas para obrigá-los a recuar em sua luta, como em 22 de dezembro de 1997, data em que Zedillo mandou matar 45 homens, mulheres, anciãos e crianças no povoado de Chiapas que se chama Acteal. Crime como este não se esquece tão facilmente e é uma amostra de como os maus governos não têm escrúpulos em atacar e assassinar os que se rebelam contra as injustiças. E, enquanto isso, nós zapatistas pressionamos para que se cumpram os acordos e vamos resistindo nas montanhas do sudeste mexicano.
E então começamos a falar com outros povos indígenas do México e com suas organizações e acordamos com eles de que vamos lutar juntos pelo mesmo, ou seja, pelo reconhecimento dos direitos e da cultura indígenas. Bom, também nos apoiou muita gente do mundo inteiro, e pessoas que são muito respeitadas e cuja palavra é muito grande porque trata-se de grandes intelectuais, artistas e cientistas do México e do mundo inteiro. Realizamos também encontros internacionais, ou seja, nos juntamos para falar com pessoas da América, da Ásia, da Europa, da África e da Oceania, conhecemos suas lutas e seus jeitos, e dissemos que são encontros “intergalácticos” só para sermos brincalhões e porque convidamos também os de outros planetas, mas parece que não chegaram, ou talvez chegaram, mas não o disseram claramente.
Seja como for, os maus governos não cumpriam [os acordos], e então fizemos um plano para falar com muitos mexicanos para que nos apoiassem. Então, antes de tudo, fizemos, em 1997, uma marcha até a Cidade do México que se chamou “dos 1.111″ porque iam um companheiro e uma companheira de cada povoado zapatista, mas o governo não lhe fez caso. Em seguida, em 1999, fizemos uma consulta em todo o país e aí deu pra ver que a maioria concorda com as demandas dos povos indígenas, mas os maus governos tampouco lhe fizeram caso. E, por último, em 2001, fizemos a que se chamou a “marcha pela dignidade indígena” que teve muito apoio de milhões de mexicanos e de outros países, e chegou até onde estão os deputados e os senadores, ou seja, no Congresso da União, para exigir o reconhecimento dos indígenas mexicanos.
Mas acontece que não, que os políticos que são do partido PRI, do partido PAN e do partido PRD entraram em acordo entre eles e simplesmente não reconheceram os direitos e a cultura indígenas. Isso foi em abril de 2001 e aí os políticos demonstraram claramente que não têm nenhuma decência e são sem-vergonhas que só pensam em ganhar seu bom dinheiro como maus governantes que são. Temos que lembrar disso porque já, já, vão dizer a vocês que vão reconhecer os direitos indígenas, mas é uma mentira que eles jogam para que votem neles, já tiveram sua oportunidade e não cumpriram o seu dever.
Foi então que nos demos conta de que o diálogo e a negociação com os maus governos do México foram em vão. Ou seja, não é conveniente que falemos com os políticos porque nem seu coração, nem sua palavra agem direito, mas estão cheios de tramóias e soltam mentiras de que vão cumprir, mas depois não cumprem. Ou seja, naquele dia em que os políticos do PRI, do PAN e do PRD aprovaram uma lei inútil, mataram de vez o diálogo e deixaram claro que pouco importa o que eles acordam ou assinam porque não têm palavra. Em seguida, não fizemos nenhum contato com os poderes federais, porque entendemos que o diálogo e a negociação haviam fracassado por causa destes partidos políticos. Vimos que não se importavam com o sangue, a morte, o sofrimento, as mobilizações, as consultas, os esforços, os pronunciamentos nacionais e internacionais, os encontros, os acordos, as assinaturas, os compromissos. Desta forma, a classe política não só fechou, mais uma vez, a porta aos povos indígenas, como também deu um golpe mortal solução pacífica, dialogada e negociada da guerra. E também não se pode mais acreditar que se cumpram os acordos a que se chega com quem quer que seja. Observem para tirar proveito do que aconteceu conosco.
E então nós vimos tudo isso e pensamos em nossos corações o que vamos fazer. A primeira coisa que vimos é que o nosso coração já não é como era antes, quando começamos nossa luta, mas sim que é maior porque já tocamos o coração de muita gente boa. E também vimos que o nosso coração está mais ferido. E não é que está ferido pelos enganos que os maus governos nos fizeram, mas sim porque quando tocamos os corações de outros tocamos também suas dores. Ou seja, foi como vermo-nos num espelho.
2. De onde estamos agora.
Então, como zapatistas, pensamos que não bastava em deixar de dialogar com o governo, mas que era necessário sim ir adiante na luta apesar destes políticos parasitas e vagabundos. O EZLN decidiu então pelo cumprimento, sozinho e de sua parte (ou seja, isso que se chama de “unilateral” porque é só de um lado) dos Acordos de San Andrés quanto aos direitos e a cultura indígenas. Durante 4 anos, desde meados de 2001 até meados de 2005, nos dedicamos a isso, e a outras coisas que já vamos contar.
Bom, começamos então a implantar os municípios autônomos rebeldes zapatistas, que é como se organizaram os povoados para governar e governar-se, para tornarem-se mais fortes. Esta forma de governo autônomo não foi inventada sem mais nem menos pelo EZLN, mas vem de vários séculos de resistência indígena e da própria experiência zapatistas, enquanto autogoverno das comunidades. Ou seja, não é que vem alguém de fora a governar, mas que os próprios povoados decidem, entre eles, quem e como governa, e se este não obedece então o tiram. Ou seja, se quem manda não obedece ao povo, então o põem pra correr, deixa de ser autoridade e entra outro.
Vimos então que os municípios autônomos não estavam todos no mesmo nível, mas havia alguns que estavam mais avançados e tinham mais apoios da sociedade civil, e outros estavam mais abandonados. Ou seja, que faltava organizar as coisas para que tudo fosse mais igualitário. Vimos também que o EZLN com sua parte político militar estava se metendo nas decisões que cabiam s autoridades democráticas, como se diz “civis”. E aqui o problema é que a parte político-militar do EZLN não é democrática, porque é um exército, e vimos que não está certo isso que o militar está em cima e o democrático em baixo, porque não é possível que o democrático seja decidido militarmente, mas sim deve ser o contrário: ou seja, que o político-democrático está em cima mandando e em baixo o militar obedecendo. Ou talvez é melhor que não haja nada em baixo, que seja tudo bem plano, sem militar, e por isso os zapatistas são soldados para que não haja soldados. Bom, mas então, em relação a este problema, o que fizemos foi começar a separar o que é político militar do que são as formas de organização autônomas e democráticas das comunidades zapatistas. E assim, ações e decisões que antes o EZLN fazia e tomava, aos poucos foram repassadas s autoridades democraticamente eleitas nos povoados. Claro que isso é fácil de dizer, mas na prática custa muito, porque são muitos anos, primeiro quando da preparação da guerra e, em seguida, já é a guerra e vai se acostumando com o político-militar. Mas, seja como for, fizemos isso porque este é o nosso jeito, de fazer o que dizemos, porque senão não há porquê sair dizendo se depois não o fazemos.
Foi assim que, em agosto de 2003, nasceram as Juntas de Bom Governo, e com elas se continuou a aprendizagem e o exercício do “mandar obedecendo”. Desde então, e até a metade de 2005, a direção do EZLN não se meteu a dar ordens nos assuntos civis, mas acompanhou e apoiou as autoridades democraticamente eleitas pelos povoados e, além disso, vigiou para que fossem bem informados os povos e a sociedade civil nacional e internacional em relação aos apoios recebidos e em que foram utilizados. E agora estamos passando o trabalho de vigilância do bom governo s bases de apoio zapatistas, com cargos em esquema de rodízio, de tal forma que todos e todas aprendam e realizem este trabalho. Porque nós achamos que um povo que não vigia os seus governantes está condenado a ser escravo, e nós lutamos para sermos livres, não para mudar de dono a cada seis anos.
Durante estes 4 anos, o EZLN também passou s Juntas de Bom Governo e aos Municípios Autônomos os apoios e contatos que, em todo o México e o mundo, foram conseguidos nestes anos de guerra e resistência. Além disso, durante este período, o EZLN foi construindo um apoio econômico e político que permita s comunidades zapatistas avançar com menos dificuldades na construção de sua autonomia e na melhora de suas condições de vida. Não é muito, mas é bem superior ao que se tinha antes do início do levante, em janeiro de 1994. Se você olha para um desses estudos feitos pelos governos, vai ver que as únicas comunidades indígenas que melhoraram suas condições de vida, ou seja, sua saúde, educação, alimentação, moradia, foram as que estão em território zapatista, que é como nós chamamos o lugar onde estão nossos povoados. E tudo isso tem sido possível pelo avanço dos povoados zapatistas e pelo apoio muito grande recebido de pessoas boas e nobres, que chamamos de “sociedades civis”, e de suas organizações no mundo inteiro. Como se todas estas pessoas tivessem tornado realidade isso de que “outro mundo é possível”, mas nos fatos, não nas simples falações.
E então os povoados têm tido bons avanços. Agora há mais companheiros e companheiras que estão aprendendo a ser governo. E, ainda que aos poucos, há mais mulheres que estão entrando nestes trabalhos, mas ainda continua faltando respeito para com as companheiras e que elas participem mais nos trabalhos da luta. Além disso, as Juntas de Bom Governo, têm melhorado a coordenação entre os municípios autônomos e a solução de problemas com outras organizações e com autoridades dos municípios oficiais. E também se melhorou muito nos projetos das comunidades, e é mais igualitária a distribuição de projetos e apoios dados pela sociedade civil do mundo inteiro: a saúde e a educação têm melhorado, mesmo que ainda falte um bocado para serem o que devem ser, o mesmo ocorreu com a moradia e a alimentação, e em algumas regiões tem melhorado muito o problema da terra porque as terras recuperadas dos fazendeiros foram distribuídas, mas há regiões que continuam sofrendo por falta de terras para cultivar. E também melhorou muito o apoio da sociedade civil nacional e internacional, porque antes cada um ia onde lhe dava na telha, e agora as Juntas de Bom Governo orientam em relação a onde é mais necessário. E, por isso mesmo, por toda parte, há mais companheiros e companheiras que estão aprendendo a relacionar-se com as pessoas de outras regiões do México e do mundo, estão aprendendo a respeitar e a exigir respeito, estão aprendendo que há muitos mundos e que todos têm o seu lugar, seu tempo, seu jeito, e temos que nos respeitar mutuamente entre todos.
Bom, nós zapatistas do EZLN dedicamos esse tempo nossa força principal, ou seja, aos povoados que nos apoiam. A situação passou por uma melhora e não se pode dizer que a organização e a luta zapatistas foram em vão, e, ainda que acabem conosco de vez, nossa luta serviu para alguma coisa.
Mas não foram só os povoados zapatistas a crescerem, o EZLN também cresceu. Porque o que aconteceu neste período é que novas gerações renovaram toda a nossa organização. Ou seja, injetaram uma nova força. Os comandantes e comandantas, que estavam em sua maturidade no início do levante em 1994, têm agora a sabedoria do que foi aprendido na guerra e no diálogo de 12 anos com milhares de homens e mulheres do mundo inteiro. Os membros do CCRI, a direção político-organizativa zapatista, agora aconselham e orientam os novos que vão entrando em nossa luta e os que vão ocupando cargos de direção. E já faz tempo que os “comitês” (que é como nós os chamamos) têm preparado toda uma nova geração de comandantes e comandantas que, depois de um período de instrução e prova, começam a conhecer os trabalhos do comando organizativo e a desempenhá-los. E acontece também que nossos insurgentes, insurgentas, milicianos, milicianas, responsáveis locais e regionais, bem como as bases de apoio, que eram jovens no início do levante, já são homens e mulheres maduros, combatentes veteranos e líderes naturais em suas unidades e comunidades. E aqueles que eram crianças naquele janeiro de 1994, são jovens que têm crescido na resistência, e têm sido formados na digna rebeldia levada adiante por seus pais nestes 12 anos de guerra. Estes jovens têm uma formação política, técnica e cultural que nós que iniciamos o movimento zapatista não tínhamos. Esta juventude alimenta agora, cada vez mais, tanto nossas tropas como os postos de direção na organização. E, bom, todos nós vimos as enganações da classe política mexicana e a destruição que suas ações provocam em nossa pátria. E vimos as grandes injustiças e matanças realizadas pela globalização neoliberal no mundo inteiro. Mas vou lhes falar disso mais adiante.
Assim, o EZLN tem resistido a 12 anos de guerra, de ataques militares, políticos, ideológicos e econômicos, de cerco, de perseguição, de hostilidades e não têm nos vencido, não nos vendemos, nem nos rendemos, e temos avançado. Mais companheiros de muitos lugares têm entrado na luta, de tal forma que, no lugar de tornarmo-nos mais fracos depois de tantos anos, nos fazemos mais fortes. Claro que há problemas que podem ser resolvidos separando mais o político-militar do civil-democrático. Mas há coisas, as mais importantes, como são nossas demandas pelas quais lutamos que não foram completamente atingidas.
Conforme nosso pensamento e o que vemos em nosso coração, temos chegado a um ponto em que não podemos ir além e, além disso, é possível que percamos tudo o que temos se ficamos como estamos e não fazemos nada para avançar. Ou seja, chegou a hora de arriscar outra vez e dar um passo perigoso, mas que vale a pena. Porque, talvez, unidos com outros setores sociais que têm nossas mesmas carências, será possível conseguir o que precisamos e merecemos. Um novo passo adiante na luta indígena só é possível se o indígena se une aos operários, camponeses, estudantes, professores, empregados… ou seja, aos trabalhadores da cidade e do campo.

3. De como vemos o mundo.

Agora vamos explicar como é que nós zapatistas vemos o que se passa no mundo. Pois vemos que atualmente o capitalismo é o que está mais forte. O capitalismo é um sitema social, ou seja, como as coisas e as pessoas se organizam na sociedade: quem tem e quem não tem; quem manda e quem obedece. No capitalismo alguns têm dinheiro, ou seja, capital, e fábricas, e lojas, e campos, e muitas coisas, e outros não têm nada mais que sua força e seu conhecimento para trabalhar; e no capitalismo os que têm o dinheiro e as coisas mandam, e os que só tem sua força de trabalho obedecem.

E, desse modo, capitalismo significa que existem uns poucos que têm grandes riquezas, mas não por que ganharam um prêmio ou encontraram um tesouro, ou herdaram de um parente, conseguiram essas riquezas apenas com a exploração do trabalho de muitos. Ou seja, que o capitalismo se sustenta com a exploração dos trabalhadores, o que quer dizer que é como se espremessem os trabalhadores para sugar deles todo o lucro possível. Isso se faz com injustiça, porque não pagam ao trabalhador o quanto realmente vale seu trabalho, mas lhes oferecem um salário para que possa comer um pouco, e descansar outro tanto, e, no outro dia, regressar para trabalhar no “explotódromo”, seja no campo seja na cidade.

E também o capitalismo faz sua riqueza com a desapropriação, ou seja, com o roubo, porque tira tudo que deseja dos outros, como, por exemplo, terras e riquezas naturais. Ou seja, que o capitalismo é um sistema em que os ladrões estão livres e são admirados e apresentados como exemplo.

E, além de explorar e desapropriar, o capitalismo reprime, porque prende e mata àqueles que se rebelam contra a injustiça.

Ao capitalismo são as mercadorias aquilo que mais lhe interessa, porque quando se compra e se vende se obtém lucro. E, desse modo, o capitalismo converte tudo em mercadoria, transforma as pessoas, a natureza, a cultura, a história, a consciência em mercadoria. De acordo com o capitalismo é possível comprar e vender tudo. E ele esconde tudo atrás das mercadorias para que não enxerguemos a exploração existente. E então as mercadorias se compram e se vendem em um mercado. E o resultado é que o mercado, além de servir para comprar e vender, também serve para esconder a exploração que se faz dos trabalhadores. Por exemplo, no mercado, vemos o café já empacotado, no seu saquinho ou no seu pote muito bonitinho, mas não vemos o campesino que sofreu para colher o café, e não vemos o atravessador que pagou muito barato por seu trabalho, e não vemos o trabalhador em uma grande empresa que trabalha duro e duro para empacotar o café. Ou então vemos um aparelho para escutar música como cumbias, rancheras ou corridos, ou qualquer que seja, e vemos que está muito bom porque tem um bom som, mas não vemos à operária da empresa maquiladora que batalhou muitas horas para colocar os cabos e as partes do apararelho, e apenas lhe pagaram uma miséria de dinheiro, e ela vive longe do trabalho e gasta um tanto com a passagem, e além disso corre perigo de que a seqüestrem, que a violem e que a matem, como acontece na Cidade Juaréz, no México.

Ou seja, no mercado vemos as mercadorias, mas não vemos a exploração com que as fizeram. E então o capitalismo necessita de muitos mercados... ou um mercado muito grande, um mercado mundial.

E o resultado é que o capitalismo de agora não é igual ao de antes, quando os ricos estavam contentes explorando aos trabalhadores em seus países, agora está dando um passo que se chama Globalização Neoliberal. Esta globalização quer dizer que já não se dominam apenas os trabalhadores em um país ou em vários, mas que os capitalistas tratam de dominar tudo em todo o mundo. E por chamarem ao mundo, ou seja, o planeta Terra, de o “globo terráqueo”, é que se diz “globalização”, ou seja, todo o mundo.

E o neoliberalismo é a idéia de que o capitalismo está livre para dominar todo o mundo e que tanto faz, pois tem que se resignar e se conformar e não fazer alarde, ou seja, não se rebelar. Ou seja, o neoliberalismo é como a teoria, o plano, da globalização capitalista. E o neoliberalismo tem seus planos econômicos, políticos, militares e culturais. Todos esses planos tratam da dominação de todos, e aquele que não obedece é reprimido e isolado para que não transmita suas idéias de rebeldia a outros.

Então, na globalizaçao neoliberal, os grandes capitalistas que vivem nos países poderosos, como os Estados Unidos, querem que o mundo todo se transforme em uma grande empresa produtora de mercadorias e em um grande mercado. Um mercado mundial, um mercado para comprar e vender tudo do mundo e para esconder toda a exploração do mundo. De modo que os capitalistas globalizados se metem em todos os lados, ou seja, em todos os países, para fazer seus grandes negócios, ou seja, suas grandes explorações. E assim não respeitam nada e se impõem do jeito que lhes parece melhor. Ou seja, é como se conquistassem aos outros países. Por isso os zapatistas dizem que a globalização neoliberal é uma guerra para conquistar todo o mundo, uma guerra mundial, uma guerra em que se usa o capitalismo para dominar mundialmente. E essa conquista às vezes é feita com exércitos que invadem, à força, um país e o conquistam. Mas, às vezes, é feita com a economia, ou seja, os grandes capitalistas aplicam dinheiro em outros países ou o emprestam, com a condição de que obedeçam ao que eles digam. E também impõem suas idéias, ou seja, a cultura capitalista, que é a cultura da mercadoria, do lucro, do mercado.

Assim, o conquistador, o capitalismo, conquista como quer, ou seja, destrói e modifica aquilo que não gosta e elimina aquilo que lhe incomoda. Por exemplo, incomodam aqueles que não produzem, nem compram, nem vendem as mercadorias modernas, ou aqueles que se rebelam contra essa ordem. E despreza a esses que não lhe servem. Por isso que os indígenas incomodam a globalização neoliberal e por isso que o capitalismo lhes despreza e lhes quer eliminar. E o capitalismo neoliberal também some com as leis que impedem de explorar e obter muito lucro. Por exemplo, impõe-se que é possível comprar e vender tudo, e como o capitalismo é quem tem o dinheiro, ele é quem compra tudo. Então é como se o capitalismo destruísse aos países que conquista com a globalização neoliberal, mas, ao mesmo tempo, quisesse reordenar tudo ou fazer tudo desde o começo, mas do seu jeito, ou seja, de um jeito que o beneficie e sem aquilo que o incomoda. Então a globalização neoliberal, ou seja, a capitalista, destrói o que já existe nesses países, destrói sua cultura, seu idioma, seu sistema econômico, seu sistema político e também destrói as formas com que se relacionam aqueles que vivem nesses países. Ou seja, destrói tudo o que faz com que um país seja um país.

Portanto, a globalização neoliberal quer destruir todas as Nações do mundo e que apenas sobre uma única Nação ou país, ou seja, o país do dinheiro, do capital. E o capitalismo quer, portanto, que tudo seja do seu jeito, e lhe desagrada tudo aquilo que é diferente, e por isso o persegue e ataca, ou lhe deixa ilhado de modo que pareça que não existe.

Em suma, o capitalismo da globalização neoliberal se baseia na exploração, na desapropriação e na depreciação, bem como na repressão aos que não se entregam. Ou seja, como antes, só que agora é globalizado, mundial.

Mas não é tão fácil assim para a globalização neoliberal, porque os explorados de cada país não se conformam e já não dizem mais que tanto faz, mas se rebelam; e os que não se adaptam e incomodam o capitalismo, resistem e não se deixam ser eliminados. E é por isso que vemos que em todo o mundo os que estão desgraçados resistem para não se entregar, ou seja, se rebelam, e não apenas em um país, mas em qualquer um que se possa imaginar, ou seja, assim como existe uma globalização neoliberal, existe uma globalização da rebeldia.

E nesta globalização da rebeldia não estão apenas os trabalhadores do campo e da cidade, estão também outros e outras que são perseguidos e desprezados por não se deixar dominar, como as mulheres, os jovens, os indígenas, os homossexuais, as lésbicas, os transexuais, os migrantes, e muitos outros grupos que, conforme sabemos, existem em todo o mundo, mas que não podemos ver até que gritem e dêem um basta ao fato de serem desprezados, e se levantem, para que a gente os possa ver, e os ouvir, e os conhecer.

E depois nos damos conta que todos esses grupos estão lutando contra o neoliberalismo, ou seja, contra o plano da globalização capitalista, e estão lutando pela humanidade.

E tudo isso que vemos nos assusta muito pela estupidez dos neoliberais de querer destruir toda a humanidade com suas guerras e explorações, mas também nos causa muita alegria ver que onde quer que seja existem resistências e rebeldias, assim como a nossa, que é um pouco pequena, mas aqui estamos. E ao vermos tudo isso em todo o mundo nosso coração entende que não estamos sozinhos.


IV. – DE COMO VEMOS A MÉXICO QUE É NOSSO PAÍS.

Agora lhes falaremos como vemos o que está se passando em nosso México. Bem, o que vemos é que nosso país está governado pelos neoliberais. Ou seja que, como já explicamos, os governantes que temos estão destruindo o que é nossa Nação, nossa Pátria mexicana. E o trabalho desse mal governo não é cuidar do bem estar do povo, mas estar pendente do bem estar dos capitalistas. Por exemplo, fazem leis como as do Tratado de Livre Comércio, que pôs na miséria a muitos mexicanos, tanto aos campesinos e aos pequenos produtores, porque são “engolidos” pelas grandes empresas agroindustriais; como aos operários e aos pequenos empresários porque não podem competir com as grandes transnacionais que se metem sem que ninguém lhes diga nada (isso quando não lhes agradecem), e colocam seus salários baixos e seus preços altos. Quer dizer, que algumas das bases economicas de nosso México, que eram o campo e a indústria e o comércio nacionais, estão bem destruídas e sobraram apenas alguns escombros que certamente também serão vendidos.

E para nossa Pátria estas são grandes desgraças. Porque no campo já não se produz os alimentos, mas apenas aquilo que vendem os grandes capitalistas, e as terras boas são roubadas com trapaças e com o apóio dos políticos. Ou seja, no campo se passa o mesmo que se passava com o Porfirismo, a única diferença é que, no lugar dos fazendeiros, agora são as empresas extrangeiras que deixam aos campesinos bem desgraçados. E, aonde antes haviam créditos e preços protecionistas agora só tem esmolas,... e, às vezes, nem isso. Y donde antes había créditos y precios de protección, ahora sólo hay limosnas, ..y a veces ni eso.

Já para os trabalhadores da cidade as fábricas fecham e eles ficam sem trabalho, ou, abrem-se as chamadas empresas ¨maquiladoras¨, que são extrangeiras e que pagam uma miséria por muitas horas de trabalho. E então não importa o preço dos produto que o povo necessita porque, idependente de estarem caro ou barato, não se tem dinheiro. E se alguém trabalhava em uma pequena ou média empresa, já não pode mais, porque já foi fechada e comprada por uma transnacional. E se alguém tinha um pequeno negócio, pois, ou este também já desapareceu ou começou a trabalhar sob condições irregulares para as grandes empresas que os exploram uma barbaridade, e até colocam crianças para trabalhar. E se o trabalhador estava em um sindicato para exigir seus direitos legais, já não pode mais, pois agora o mesmo sindicato diz que é preciso entender os cortes de salários ou a extensiva jornada de trabalho ou quando lhes negam os direitos trabalhistas, porque, do contrário, a empresa fecha e se vai a outro país. E logo também tem essa do “microcomércio”, que é uma espécie de programa econômico do governo que põe os trabalhadores da cidade para vender chicletes ou cartões telefónicos nas esquinas. Ou seja, que também nas cidades é pura destruição econômica.

E então o que acontece é que como o povo está economicamente desgraçado tanto no campo como na cidade, muitos mexicanos e mexicanas têm que deixar sua Pátria, ou seja, a terra mexicana, e ir em busca de trabalho em outro país, que é os Estados Unidos, onde não somos tratados nada bem, mas nos exploram, perseguem-nos e nos desprezam, e até nos matam.

Então a economia não tem melhorado no neoliberalismo que os maus governos nos impõem, pelo contrário, o campo está super carente e não têm trabalho nas cidades. E o que está acontecendo é que o México está se transformando em um lugar onde uns poucos nascem e uns outros poucos morrem, aqueles que trabalham para as riquezas dos estrangeiros, principalmente dos gringos ricos. Por isso que dizemos que o México está dominado pelos Estados Unidos.

Bom, mas não acontece só isso, o neoliberalismo mudou também à classe política do México, ou seja, aos políticos, porque os transformou em uma espécie de atendentes de uma loja, que fazem o possível e o impossível para vender tudo e bem barato. Já modificaram as leis para retirar o artigo 27 da Constituição e, se pudessem, venderiam as terras devolutas e as comunais. Não foi assim por acaso? O campo mexicano está peor que nunca e os campesinos mais desgraçados que na época de Porfírio Diaz. E também disseram que vão privatizar, ou seja, vender para os extrangeiros, as empresas que o Estado detenia para garantir o bem estar do povo. Dizem que é porque não estão funcionando bem e que é preciso que se modernizem, e para isso é melhor vendê-las. Mas, ao invés de melhorar, os direitos sociais conquistados na Revolução de 1910 agora são para dar lástima... e coragem. E também disseram que tem que abrir todas as fronteiras para entrar todo o capital extrangeiro, que assim os empresários mexicanos se apressam em fazer melhor as coisas. Mas agora vemos que já nem existem empresas nacionais, todas foram engolidas pelos extrangeiros, e aquilo que estes vendem está peor do que o que era feito pelo México.

E agora os políticos mexicanos também querem vender PEMEX, ou seja, o petróleo que é dos mexicanos, a única diferença é que alguns dizem para vender tudo e outros dizem para vender só uma parte. E também querem privatizar o seguro social, e a eletricidade, e a água, e os bosques, e tudo, até que não sobre nada do México e nosso país não seja nada mais que um terreno baldio ou um lugar para que os ricos de todo o mundo se divirtam, enquanto que os mexicanos e mexicanas estarão como seus empregados, dependendo daquilo que lhes oferecem, vivendo mal, sem raízes, sem cultura, sem Pátria.

Ou seja, os neoliberais querem matar ao México, à nossa pátria mexicana. E os partidos políticos não é só que não a defendem mais, senão que são os primeiros que se colocam a serviço dos extrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, e são os que se encarregam de nos enganar, fazendo-nos olhar para um lado enquanto vendem tudo e recebem o pagamento pelo outro. E isso não vale somente para um, mas para todos os partidos eleitorais que existem agora. Tentem pensar se alguma vez fizeram alguma coisa realmente bem feita e verão que não, que foram puras trapaças e roubadeiras. E verão como os políticos eleitorais sempre têm sua casona, seus carrões e seus luxos. E além de tudo pedem que lhes agredecemos e que votemos por eles em mais um eleição. * E se nota de cara, como se diz, que é por que não têm mãe. E não têm mãe porque não têm Pátria, somente contas bancárias. E se nota de cara, como se diz, que é porque são filhos da mãe. Isso, apesar de não terem mãe porque não têm Pátria, somente contas bancárias. *pensei em por isso por que nao existe a expressao nao tem mae... nao sei traduzir essa expresso..

E também percebemos que vem crescendo muito o narcotráfico e os crimes. E às vezes pensamos que os criminosos são como aqueles que aparecem nas músicas ou nos filmes, talvez alguns até sejam, mas estes não são os verdadeiros chefes. Os verdadeiros chefes andam bem vestidos, estudaram no extrangeiro, são elegantes, não estão se escondendo, comem em bons restaurantes e saem nas colunas sociais em suas festas, todos bonitos e bem vestidos, ou seja, como costumam dizer, são “gente de bem”, e alguns até são governantes, deputados, senadores, secretários de estado, empresários prósperos, chefes de polícia, generais.

Estamos dizendo que a política não serve? Não, estamos querendo dizer que ESTA política não serve. E não serve porque não leva em conta o povo, não lhe escuta, não liga para ele, a não ser quando se aproximam as eleições, e jé nem sequer querem votos, contentam-se com as pesquisas feitas para dizer quem ganha. E então são puras promessas de que vão fazer isso e aquilo, e depois desaparecem e não voltamos a vê-los, a não ser quando saem notícias de que roubaram muito dinheiro e de que não serão punidos porque a lei, que foi feita por esses mesmos políticos, lhes protege.

Porque esse é outro problema, o de que a Constituição já está toda manuseada e modificada. Já não é a mesma que garantia os direitos e as liberdades do povo trabalhador, senão que agora está garantido os direitos e as liberdades dos neoliberais para que tenham seus abundantes lucros. E os juízes estão a serviço desses neoliberais, porque sempre se posicionam a favor deles, e aos que não são ricos lhes cabem as injustiças, as prisões, os cemitérios.

Bom, mesmo com toda essa bagunça que os neoliberais estão fazendo, existem mexicanos e mexicanas que se organizam e lutam pela resistência.

E, assim, nos interamos que existem indígenas, cujas terras estão distantes daqui de Chiapas, que exercem sua autonomia e defendem sua cultura e cuidam da terra, dos bosques, da água.

E que existem trabalhadores do campo, ou seja, campesinos, que se organizam e realizam suas marchas e mobilizações para exigir créditos e apóio ao campo.

E que existem trabalhadores da cidade que não deixam que lhes tirem seus direitos ou privatizem seus trabalhos, mas que protestam e se manifestam para que não lhes tirem o pouco que têm e para que não tirem do país aquilo que é dele, como a eletricidade, o petróleo, a seguridade social, a educação.

E que existem estudantes que não deixam que privatizem a educação e que lutam para que ela seja gratuíta, para todos e de qualidade, em outras palavras, que não cobrem, que todo mundo possa aprender e que não se ensinem baboseiras nas escolas.

E que existem mulheres que não se deixam ser tratadas como enfeite, ou que as humilhem e desprezem somente por serem mulheres, mas que se organizam e lutam pelo respeito que merecem enquanto mulheres que são.

E que existem jovens que não aceitam que lhes embrutessam com as drogas ou que lhes persigam pelo seu jeito de ser, mas que se conscientizam com sua música e sua cultura, quer dizer, com sua rebeldia.

E que existem homossexuais, lésbicas, transsexuais, e muitos outros jeitos de ser, que não se conformam que se cassoem deles, e que os deprezem, e lhes maltratem, e até lhes matem porque têm outra forma de ser que é diferente, e lhes chamem de anormais ou delinqüentes, mas que fazem suas organizações para defender seu direito à diferença.

E que existem sacerdotes e freiras e aqueles chamados seculares, que não estão do lado dos ricos nem resignados pela rezadera, senão que se organizam para estar caminhando ao lado das lutas do povo.

E existem os chamados lutadores sociais, que são homens e mulheres que passaram toda suas vidas lutando pelo povo explorado, e são os mesmos que participam nas grandes greves e ações do operariado, nas grandes mobilizações dos cidadãos, nos grandes movimentos campesinos, e que sofreram as grandes repressões, e mesmo assim, mesmo que alguns já sejam mais velhos, seguem sem se render, e andam por aí, buscando a luta de um lado para o outro, buscando a organização, buscando a justiça, e constrõem organizações de esquerda, organizações não governamentais, organizações de direitos humanos, organizações de defesa dos presos políticos e de busca pelos desaparecidos, publicações de esquerda, organizações de professores e estudantes, ou seja, luta social, e até organizações político-militares, e não se colocam mais quietos e têm bastante conhecimento, porque viram e ouviram e viveram e lutaram.

E assim, no geral nós vemos que em nosso país que se chama México, tem muita gente que não se entrega, que não se rende, que não se vende. Ou seja, que é digna. E isso nos dá muita alegria e nos deixa bem contente porque com toda essa gente os neoliberais não vão ganhar tão fácil e talvez seja possível salvar nossa Pátria dos grandes roubos e destruições que lhe fazem. E torcemos para que nosso “nós” inclua todas essas rebeldias...


V. – DO QUE QUEREMOS FAZER.

Bom, agora vamos lhes dizer o que queremos fazer no mundo e no México, porque não podemos ver tudo o que acontece no nosso planeta e ficarmos quietos, como se só agente estivesse como está.

Pois o que queremos fazer no mundo é dizer para todos os que resistem e lutam do seu jeito em seus países, que não estão a sós, que nós, os zapatistas, ainda que sejamos poucos, lhes apoiamos e vamos ver de que jeito podemos ajudar em suas lutas e falar com vocês para aprender, porque o que mais aprendemos foi a aprender.

E queremos dizer aos povos latinoamericanos, que para nós é um orgulho ser parte dele, ainda que seja uma parte pequena. Que nos lembramos bem quando há alguns anos o continente também se iluminava com uma luz que se chamava Che Guevara, como a que antes se chamou Bolívar, porque, às vezes, os povos agarram um nome para dizer que agarraram uma bandeira.

E queremos dizer ao povo cubano, que resiste em seu caminho já faz muitos anos, que não estão a sós e que não concordamos com o bloqueio que lhes fazem e que vamos dar um jeito de lhes mandar alguma coisa para sua resistência, nem que seja milho. E queremos dizer ao povo norteamericano, que nós não lhes demos as costas e sabemos que uma coisa são os maus governos que têm e que prejudicam a todo o mundo, e outra bem diferente são os norteamericanos que lutam em seu país e se solidarizam com a luta de outros povos. E queremos dizer aos nossos irmãos e a nossas irmãs Mapuche, do Chile, que vemos e aprendemos com suas lutas. E aos venezoelanos, que estamos vendo bem como defendem sua soberania, ou seja, o direito de sua Nação dizer para onde quer ir. E aos irmãos e irmãs indígenas do Equador e Bolívia, lhes dizemos que estão dando uma boa lição de história a toda América Latina, porque agora sim estão pondo um freio à globalização neoliberal. E aos piqueteros e aos jovens da Argentina queremos dizer que lhes temos afeto. E àqueles do Uruguai que querem um país melhor, que lhes admiramos. E aos que estão sem terra no Brasil, que lhes respeitamos. E a todos os jovens da América Latina, que está muito bem o que estão fazendo e que nos dá muita esperança.

E queremos dizer aos irmãos e irmãs da Europa Social, ou seja, aquela que é digna e rebelde, que não estão a sós. Que seus movimentos contra as guerras neoliberais nos alegram muito. Que observamos com muita atenção suas formas de se organizar e seu modo de lutar para tentar aprender alguma coisa. Que estamos pensando em um jeito de apoiá-los em suas lutas e que só não vamos lhes mandar euros porque eles podem se desvalorizar muito rápido com esse relaxo que está a União Européia, mas talvez lhes mandaremos café e artesania para que vendam e poçam ajudar em alguma coisa seus trabalhos pela luta. E talvez também lhes mandaremos pozol, que dá muita forza para resistir; mas não sabemos se devemos mandar porque o pozol é uma coisa nossa e vai que lhes faça mal para barriga e acaba por debilitar suas lutas e os neoliberais lhes derrotem.

E queremos dizer aos irmãos e irmãs da África, Ásia e Oceanía, que sabemos que eles também estão lutando e que queremos conhecer mais suas ideáis e práticas.

E queremos dizer ao mundo que queremos fazer dele algo grande, tão grande, que caibam todos os mundos que resistem ante a tentativa dos neoliberais de lhes destruir, já que não se entragam assim tão fácil, senão que lutam por outra humanidade.

Bom, mas no México o que queremos é fazer um acordo somente com pessoas e organizações de esquerda, porque pensamos que a idéia de resistir contra a globalização neoliberal e de fazer um país onde haja justiça, democracia e liberdade para todos, só pode existir na esquerda política. Não como agora, que só existe justiça para os ricos, liberdade para seus grandes negócios e democracia para pintar faixas com propaganda eleitoral. E porque pensamos que só da esquerda pode sair um plano de luta para que nossa Pátria, que é o México, não morra.

E então o que pensamos é que, com essas pessoas e organizações de esquerda, devemos fazer um plano para ir a todas as partes do México onde haja gente humilde e simples como agente.

E não é que vamos dizer o que devem fazer, ou seja, lhes dar ordem.

Nem que vamos pedir que votem por um candidato, porque já sabemos que todos que tem são neoliberais.

Tampouco vamos dizer que façam como agente, nem que se levantem em armas.

O que vamos fazer é perguntar como é sua vida, sua luta, o que pensam de como está nosso país e o que devemos fazer para que não nos derrotem.

O que vamos fazer é tocar o pensamento da gente simples e humilde e, talvez, encontraremos nessa gente o mesmo amor por nossa pátria que nós sentimos.

E talvez nós que somos simples e humildes podemos entrar em um acordo e, juntos, organizarmo-nos em todo o país e unirmos nossas lutas que agora estão sozinhas, separadas uma das outras, e encontrarmos um programa que tenha o que todos nós queremos, e um plano de como vamos conseguir que esse programa, chamado “Programa Nacional de Luta”, seja cumprido.

E então, dependendo do que decidirem a maioria dessas pessoas que vamos escutar, faremos uma luta com todos, com indígenas, operários, campesinos, estudantes, professores, empregados, mulheres, crianças, ancianos, homens, e com todos aqueles que tenham bem coração e tenham ganas de lutar para que não se acabe de destruir e vender nossa pátria que se chama “México” e que está entre o rio Bravo e o rio Suchiate, e que de um lado tem o oceano pacífico e do outro o oceano atlântico.


VI.- DE COMO VAMOS FAZER

E então essa é a nossa palabra simples que vai dirigida à gente humilde e simples do México e do mundo, e a esta nossa palavra lhe chamamos:

Sexta Declaração da Selva Lacandona.

E aquí estamos para dizer, com nossa palavra simples, que…

O EZNL mantém seu compromisso de cessar fogo e não fará nenhum ataque contra as forças governamentais nem contra os ofensivos movimentos militares.

O EZLN todavia mantém seu compromisso de insistir na via da luta política com esta iniciativa pacífica que fizemos agora. Portanto, o EZLN seguirá com seu propósito de não realizar nenhuma relação secreta com organizações político-militares nacionais ou de outros países.

O EZLN referenda seu compromisso de defender, apoiar e obedecer às comunidades indígenas zapatistas que lhe constituem e são seu mando supremo, e, sem interferir em seus processos democráticos internos e, na medida do possível, contribuir para o fortalecimento de sua autonomia, bom governo, e melhora de suas condições de vida. Ou seja, que aquilo que vamos fazer no México e no mundo, vamos fazer sem armas, com um movimento civil e pacífico, e sem descuidar nem deixar de apoiar nossas comunidades.

Portanto…

No mundo…

1.- Faremos mais relações de respeito e apóios mútuos com pessoas e organizações que resistem e lutam contra o neoliberalismo e pela humanidade.

2.- Na medida do possível, mandaremos apóios materiais, como alimentos e artesanias, para os irmãos e irmãs que lutam em todo o mundo.

Para começar vamos pedir emprestado à Junta de Bom Governo de “La Realidad” o caminhão chamado de “Chompiras”, no qual cabem mais ou menos 8 toneladas, e vamos enchê-lo de milho e talvez com dois galões de 200 litros cada, com gasolina ou petróleo, dependendo do que lhes convir, e vamos entregá-los na embaixada de Cuba no México para que mandem ao povo cubano como um apóio dos zapatistas para sua resistência contra o bloqueio norteamericano. Ou talvez tenha um lugar mais perto para lhes entregar, porque está muito longe ir até a Cidade do México e imagina só se o “Chompira” quebra, ia ser difícil para agente. Para isso temos que esperar que seja feita a colheita do que ainda está sembrando no milharal, e que não nos ataquem, porque se mandamos nestes meses mandaremos puro milho verde e não chegaria bem nem que fossem como tamales, de modo que é melhor esperar até novembro ou dezembro.

E também vamos fazer um acordo com as cooperativas de artesania das mulheres para mandar uma quantidade considerável de bordados para as Europas, que talvez já não estejam mais em União, e talvez também mandemos café orgânico das cooperativas zapatistas para que lhe vendam e ganhem um pouco de dinheiro para sua luta. E se não venderem, sempre se pode tomar um cafezinho para conversar sobre a luta antineoliberal, e quando fizer um pouco de frio poderam se cobrir com os bordados zapatistas que resistem muito bem à lavagem à mão e à pedra e, além disso, não se descolorem.

E aos irmãos e irmãs indígenas da Bolívia e do Equador também vamos lhes enviar um pouco de milho não trangênico e não manderamos mais coisa porque não sabemos onde tem que entregar para que chegue com certeza até vocês, mas estamos dispostos a dar essa pequena ajuda.

3.- E a todos aqueles e aquelas que resitem em todo o mundo lhes dizemos que temos que fazer outros encontros intercontinentais, ainda que seja um diferente. Talvez dezembro deste ano, ou no próximo janeiro, temos que pensar. Não queremos dizer quando, porque devemos fazer todas as decições juntos, de onde, de quando, de como, de quem. Mas que não seja um encontro de palanque, onde uns poucos falam e os demais escutem, senão que seja sem palanque, somente o plano e que todos falem, mas com ordem senão vira bagunça e não se pode entender a palavra, e com uma organização boa todos podem escutar, e, assim anotar em seus cadernos as palavras de resistência dos outros para que depois cada um possa contar aos companheiros e companheiras de seus mundos o que ouviu. E nós pensamos que deve ser em um lugar que tenha uma prisão bem grande, porque vai que sejamos reprimidos e presos, assim não teremos que estar todos amontoados, estaremos presos, isso sim, mas bem organizados, e aí mesmo na prisão poderíamos continuar o encontro intercontinental pela humanidade e contra o neoliberalismo. Então logo dizeremos como faremos para nos colocar de acordo em como vamos nos colocar de acordo. Bom, assim é que pensamos fazer o que queremos fazer no mundo. Agora segue.....

No México...

1.- Vamos continuar lutando pelos povos indígenas do México, mas não mais somente por eles nem somente com eles, e sim por todos os explorados e sem posses do México, com todos eles e em todo o país. E quando dizemos todos os explorados do México, também estamos falando dos irmãos e irmãs que tiveram que ir aos Estados Unidos em busca de trabalho para poder sobreviver.

2.- Vamos ir escutar e falar diretamente com a gente simples e humilde do povo mexicano, sem intermediários nem mediações, e, de acordo com o que formos escutando e aprendendo, vamos ir construindo, junto com essa gente que é como agente, humilde e simples, um programa nacional de luta, porém um programa que seja claramente de esquerda, ou seja, anticapitalsita, ou seja, antineoliberal, ou seja, pela justiça, democracia e liberdade do povo mexicano.







3.- Vamos tratar de construir, ou reconstruir, uma outra forma de fazer política, uma que tenha outra vez o espírito de servir aos demais, sem interesses materias, com sacrifício, com dedicação, com honestidade, que cumpra sua palavra, na qual o único pagamento seja a satisfação pelo dever cumprido, ou seja, como antes faziam os militantes de esquerda que não paravam nem com golpes, prisão ou morte, que dirá com bilhetes de dólares.

4. – Também vamos tentar começar uma luta pela demanda de que façamos uma nova Constituição, ou seja, novas leis que levem em consideração as demandas do povo mexicano, que são: teto, terra, trabalho, alimento, saúde, educação, informação, cultura, independência, democracia, justiça, liberdade e paz. Uma nova Consituição que reconheça os direitos e liberdades do povo, e que defenda ao fraco ante o poderoso.

PARA ISSO…

O EZLN enviará uma delegação de sua direção para fazer esse trabalho em todo o território nacional e por tempo indefinido. Esta delegação zapatista, junto com as organizações e pessoas de esquerda que se somarem à Sexta Declaração da Selva Lacandona, irá para os lugares a que for convidada diretamente.

Também informamos que o EZLN estabelecerá uma política de alianças com organizações e movimentos não eleitorais que se definam, na teoria e na prática, como de esquerda, levando em conta as seguintes condições:

Não à fazer acordos de cima para impor aos de baixo, mas fazer acordos para ir juntos escutar e organizar a indiganação; não à levantar movimentos que depois sejam negociados pelas costas daqueles que lhe construíram, mas tomar sempre em conta a opinião daqueles que participam; não à busca de presentinhos, posições, vantagens, postos públicos, seja este do poder seja de quem aspira a ele, mas ir além dos calendários eleitorais; não à tentativa de resolver os problemas de nossa Nação desde cima, mas construir DESDE ABAIXO E POR BAIXO uma alternativa à destruição neoliberal, uma alternativa de esquerda para o México.

Sim ao respeito mútuo, à autonomia e independência das organizações, às suas formas de luta, ao seu jeito de se organizar, aos seus processos internos para tomar decisões, às suas representações legítimas, às suas aspirações e demandas; e sim a um compromisso claro de defesa conjunta e coordenada da soberania nacional, com uma posição intransigente às tentativas de privatização da energia elétrica, do petróleo, da água e dos recursos naturais.

Ou seja, estamos dizendo que convidamos às organizações políticas e sociais de esquerda que não tenham registro, e às pessoas que se reivindicam de esquerda que não pertencem a partidos políticos registrados, a que nos reunamos, em tempo, lugar e forma que lhes proponeremos quando tivermos oportunidade, para organizar uma campanha nacional, visitando todos os lugares possíveis de nossa pátria para escutar e organizar a palavra do nosso povo. Então é como se fosse uma campanha, só que bem diferente, porque não é eleitoral.

Irmãos e irmãs:

Esta é a palabra que declaramos:

No mundo vamos a nos aproximar mais das lutas de resistência contra o neoliberalismo e pela humanidade.

E vamos apoiar, ainda que pouco, a essas lutas.

E vamos, com respeito mútuo, trocar experiências, histórias, idéias, sonhos.

No México vamos caminhar por todo o país, pelas ruínas que a guerra neoliberal deixou e pelas resistência que, entre trincheiras, nele florecem.

Vamos procurar, e encontrar, alguém que queira a estes sólos e a estes céus tanto como nós.

Vamos procurar, de La Realidad à Tijuana, a quem queira se organizar, lutar, construir talvez a última esperança de que esta Nação, que já está aí pelo menos desde os tempos em que uma águia pousou sobre um cacto para devorar uma serpente, não morra.

Vamos por democracia, liberdade e justiça para aqueles a que são negadas.

Vamos por uma outra política, por um programa de esquerda e por uma nova constituição.

Convidamos aos indígenas, operários, campesinos, professores, estudantes, donas de casa, colonos, pequenos proprietários, pequenos comerciantes, micro empresários, jubilados, descapacitados, religiosos e religiosas, científicos, artistas, intelectuais, jovens, mulheres, anciãos, homossexuais e lésbicas, crianças, para que, de maneira individual ou coletiva, participem diretamente com os zapatistas nesta CAMPANHA NACIONAL pela construção de outra forma de fazer política, de um programa de luta nacional e de esquerda, e de uma nova Constituição.

E esta é nossa palavra do que vamos fazer e de como o faremos. Agora vejam se querem participar.

E dizemos aos homens e mulheres que têm pensamento bom em seu coração, que concordam com esta palavra que lançamos e que não têm medo, ou que até têm, mas o controlam, que digam publicamente se estiverem de acordo com esta idéia que estamos declarando e, assim, vamos vendo de uma vez quem e como e aonde e quando é que se dará esse novo passo na luta.

Por enquanto pensem, lhes dizemos que, hoje, no sexto mês do ano de 2005, os homens, mulheres, crianças e anciãos do Exército Zapatista de Libertação Nacional já nos decidimos e já assinamos esta Sexta Declaração da Selva Lacandona, e assinaram aqueles que sabem e aqueles que não deixaram pista(¿!), e quanto aos que não sabem, já são menos, porque a educação já avançou aquí neste território em rebeldia pela humanidade e contra o neoliberalismo, ou seja, em terras e céus zapatistas.


E esta foi nossa palavra simples dirigida aos corações nobres e rebeldes da gente simples e humilde que resiste e se rebela em todo o mundo contra as injustiças.

DEMOCRACIA!
LIBERDADE!
JUSTIÇA!

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comandância Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional. México, no sexto mês, ou seja, junho, do ano de 2005.

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